quarta-feira, 30 de abril de 2008

As mais belas músicas já compostas

Resolvi criar uma lista das músicas que considero as mais belas. Como belas, entenda-se tocantes, passionais, aquelas que são impossíveis de se ouvir sem nada sentir. Para mim, é óbvio. Se alguém discordar, debatamos nos comentários. A lista está em ordem alfabética por banda (outra obviedade) e faltam algumas coisas que esqueci no momento.
  • Beatles - "Because"
    Beatles -"Across the Universe"
    Dead Can Dance - "The Carnival is Over"
    Echo & The Bunnymen - "The Killing Moon"
    Guns and Roses - "Patience"
    Janis Joplin - "Ball and Chain"
    Janis Joplin - "Me and Bob McGee"
    Janis Joplin - "Summertime"
    Johnny Rivers - "You´ve lost that loving feeling"
    Led Zeppelin - "Since I´ve been loving you"
    Legião Urbana - "Tempo Perdido"
    Paul Simon - "Bridge Over Trouble Water"
    Pearl Jam - "Oceans"
    Pink Floyd - "The Great Gig in the Sky"
    Radiohead - "Creep"
    Radiohead - "Exit Music (for a film)"
    Radiohead - "Fake Plastic trees"
    Sisters of Mercy - "More"
    Smashing Pumpkins - "Disarm"
    Smashing Pumpkins - "Muzzle"
    Soundgarden - "Blow Up The Outside World"
    Soundgarden - "The day I tried to live"
    The Mamas and The Papas - "Dedicated to the one I love"
    The Mamas and The Papas - "Monday Monday"
    The Nixons - "Sister"
    The Smiths - "Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me"
    U2 - "Bad"
    U2 - "One"
    U2 - "Where the streets have no name"

Metrô


A história a seguir é de 18.7.1999, o ano em que comprei meu primeiro celular - aquele Baby tijolão, para o qual criaram aquela propaganda do bebê falante. Eu tinha vergonha de falar em locais públicos e para atendê-lo, sempre me escondia nas cabines de orelhão. Digressões à parte, o texto nem é sobre celulares e lá vai:


"Último vagão, entre a penúltima e a última estação. Ela, quase atrasada para o trabalho, quase sozinha naquele vagão do metrô. Havia apenas mais um homem, no banco lateralmente oposto ao dela.

Era inverno, porém este nunca chegava aos túneis do metrô. Estava um calor agradável e a velocidade do trem proporcionava a reconfortante certeza da pontualidade. Ela mudara o trajeto para tentar o incrível feito de ser pontual. Com as ruas intransitáveis àquela hora, preferiu o rápido meio de transporte. Apenas um minuto entre uma estação e outra. E em mais meio minuto ela desceria...

Com a proximidade da estação, o trem foi diminuindo a velocidade. E parou, provavelmente à espera de que outro trem partisse, permitindo-o estacionar com segurança.

Ela detestava quando isso acontecia. a sensação era sempre ruim, mesmo sabendo que em poucos segundos voltariam a andar. Lembrou-se do dia de sol lá fora ao ver o concreto escuro através da janela. Teve tempo de relembrar o dia anterior e o comecinho daquela manhã, até que olhou o relógio. O trem estava demorando... O quase atrasada em pouco tempo se consolidaria um atraso real. Olhou para o homem ao lado.

Ele carregava uma pequena mochila. Vestia jeans e camisa. Tinha um cavanhaque e não era feio. Ele percebeu que estava sendo observado e olhou para ela, que virou o rosto e neste momento deu-se conta de que eram apenas os dois no vagão. Em breve, porém , o trem partiria, mais alguns segundos e ela estaria subindo correndo pelas escadas rolantes...

Não. Os segundos já se transformavam em minutos. Ela começou a se impacientar. Mais ainda quando o homem, olhando ao redor, também deu-se conta de que eram apenas os dois ali. E olhou para ela quase sorrindo.

Ela não sabia se comentava com ele sobre a demora. Diante da impossibilidade de fuga naquele vagão sem portas para os demais, ela ficou quieta. Mirou o túnel negro e sentiu um início de medo.

Que bobagem, para que medo, se logo partiriam? "Em caso de emergência, quebre o vidro e puxe"... Não, não haveria emergência. Sim, o homem se mexeu. E ajeitou-se no banco de modo que pudesse olhá-la melhor.

Ela segurou com mais força a bolsa e pensou no dinheiro que tinha. Não deixaria que levassem os documentos, era tão trabalhoso tirá-los! E cartas, cartões, fotos, tudo aquilo que concedia à sua carteira uma curta descrição da sua vida...

Quase dez minutos e nada. Começou a sentir calor. Atrasada, mas que droga! O homem tossiu, fazendo com que ela quase pulasse no banco. Imagine, o metrô é um seguro meio de transporte, posso sair dele quebrando o vidro de emergência e acionando o mecanismo de abertura das portas, eu gritarei e então...

Clic! As luzes se apagaram. Escuridão total. Ela se encolheu no assento, tremendo. E agora, onde estará o botão de emergência? E se ao acioná-lo, o trem começar a se movimentar? O homem tossiu mais forte. Ela podia jurar que ele havia se aproximado. Pensou em rezar, no entanto lembrou-se de que não acreditava em milagres. O guarda-chuva! Idéia brilhante logo apagada. Ele poderia ter um revólver.

As lâmpadas emergenciais acenderam-se. Iluminavam quase nada, mas pelo menos as trevas não eram totais. O homem havia mudado de banco, porém continuava na mesma fileira. Só que agora, de frente para ela.

Então o trem, vagarosamente, começou a se movimentar. Ela, em pânico, conseguiu respirar. Teve a impressão de que o homem sorrira.

A estação estava às escuras. Deve ter sido uma queda de energia no bairro, pensou ela. Todavia, mal pode pensar outra coisa: o trem passou direto pela última estação e parou bem adiante, noutro corredor sem luz.

Agora já era demais. O homem levantou-se e tentou espiar pela janela. Ela, ofegante, prestava atenção a cada movimento dele, que se voltou e a encarou. É, agora não há mais saída... Sua seriedade assustou-a ainda mais. Ela tentava disfarçar o nervosismo; era impossível. Foi quando ele fez um gesto de quem diria algo e:

- Senhores passageiros, desculpem-nos o transtorno. Assim que se normalizar o fornecimento de energia elétrica, os senhores poderão desembarcar.

A voz metálica do auto-falante. No mínimo, deveria haver outro condutor no último vagão, que movimentaria o trem no sentido contrário, de volta à plataforma. Se precisasse, seria só correr e bater na cabine fechada. Enquanto isso, à meia-luz, o homem tentava ver as horas. Olhou mais uma vez para ela e as luzes foram totalmente acesas. O trem pôs-se de volta a caminho da estação.

Ela não o esperou parar; levantou-se e dirigiu-se para a porta. Ele havia sentado. Quando as portas se abriram, ela correu e voou pelas escadas rolantes. Havia perdido meia hora.

Contou por cima a história do metrô aos colegas. Ao sair do trabalho, já refeita, resolveu passar em uma livraria para ver as novidades. Estranhou não haver funcionários por perto. Deixando cair um livro, porém, notou que alguém se aproximara para ajudá-la. Sentiu um frio no estômago ao virar-se e ver o homem do metrô. Ela ia dizer algo e clic! Nova queda de energia.

- Parece que temos uma atração pelas trevas, não? - disse ele, enquanto abaixava as portas da loja com controle remoto - possuía um gerador para fazê-lo. E sem que qualquer lâmpada de emergência fosse acesa, nada mais foi ouvido."

Nota sobre o gato


Segundo o último boletim veterinário divulgado às 20h30 de ontem, o gato que caiu do quinto andar está vivo e passa bem - talvez nem tanto na opinião dele, já que ainda não recuperou os movimentos das patas e talvez necessite de uma cirurgia.

Isso me faz acreditar que realmente os gatos têm sete vidas.

Contatos imediatos de terceiro grau


Finalmente! Consegui fotografar um dos meus contatos com seres de outro planeta! Não riam mais de mim! Eu posso provar que existe vida (ou coisas estranhas, no mínimo) fora da Terra.

Em Sorocaba, no ano 2001, eu e uma amiga vimos um objeto voador não identificado. Era uma esfera alaranjada, que girava em torno de si mesma. Estava alta demais para ser um balão, e com movimentos demais para ser um balão metereológico. Ficou por mais de uma hora girando no mesmo lugar, até que cansamos de observar. Ao ouvir essa história, claro, qualquer um ri. Não digo nunca que vi uma nave, mas vi um objeto voador que eu não pude identificar.

Agora que eu vi vocês, E.T.s, me aguardem: quero marcar uma horinha pra bater papo e discutir umas questões existencias... ai de vocês!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Sorriso


O texto a seguir escrevi em fevereiro de 1999, quando eu ainda tentava criar minha primeira conta de e-mail e achávamos que o mundo acabaria em 11 de agosto daquele ano (droga... não acabou!):


"Ela saiu de casa. E sorriu para a primeira pessoa que encontrou na rua. Uma antiga vizinha, para quem o sorriso era tão comum quanto respirar. Esta sorriu de volta. Mecanicamente.

Sorriu para o motorista do ônibus. Que retribuiu com seu "bom dia" costumeiro, sorrindo de leve.

E foi a vez do velhinho do banco ao lado. Que diante do sorriso, sentiu-se à vontade para puxar conversa. Explicou a ela como as geladeiras funcionavam e contou que sabia onde o sol nascia. Ele descobrira no Japão: o sol nascia no mar.

Sorriu para o homem sem pernas, que ficava a esmolar todos os dias na mesma calçada. Surpreendentemente, o homem sofrido sorriu também. E mais uma vez, ela lembrou-se do doce que pretendia lhe dar. Mas que sempre esquecia, tendo longe dos olhos a face triste do homem. Dessa vez, ele também sorria.

Sorriu para os colegas de trabalho. Alguns não repararam, poucos responderam. Sorriu para todos os clientes. Houve quem acreditasse que ela ironizava; houve quem se encantasse com um sorriso numa manhã de segunda-feira. Houve quem, após o sorriso, insistisse para vê-lo de novo. E por não valer a pena, ela tornou-o mais frio.

Depois, sorriu para o atendente da lanchonete. Que viu nesse sorriso mais do que ele expressava, e sentiu-se encorajado a se aproximar mais. Porém logo percebeu que o sorriso dizia pouco, e ainda não era o que ele pensava perceber.

Sorriu para uma criança na rua, que se escondeu entre as pernas da mãe, com vergonha. A mãe também sorriu.

Sorriu para a amiga que encontrou e sentiu a felicidade nesse sorriso. Sorriu para o homem que se vestia como mulher e se vendia na esquina; ele sentiu-se animado e disse "boa noite". Era noite. Os sorrisos se enfraquecem à noite.

Ficou séria. Voltava para casa e alguém do outro lado da rua caminhava na mesma direção. Ela olhou-o e não sorriu. Entrou em casa. E esse alguém, descobrindo onde ela morava, deu o maior sorriso do dia."

É tudo verdade


Eu não costumo escrever neste blog como se fosse um diário; aliás, nem era essa a minha intenção ao criá-lo. Mas as minhas últimas horas têm sido tão inusitadas que não posso deixar de postá-las aqui.

Bom, a começar minhas últimas 24 horas têm sido 48. Explico: não dormi de ontem pra hoje corrigindo textos (até dormi, mas uma hora não conta). Para mim, um novo dia só começa depois que eu durmo, não importa a que horas. Então, por volta das 21h30 da última noite ocorreu o primeiro fato desta série.

Voltava eu da academia (um capítulo à parte, a ser escrito em breve) de bicicleta. Fui fazer pouca coisa, porque ainda precisava trabalhar. Num trecho escuro da rua, não consigo desviar e cometo aquilo que, por si só já é dificílimo de acontecer: atropelei um rato com minha bicicleta. O agravante, porém, que torna a situação mais incomum ainda, é que não se tratava apenas de um rato - eram dois ratos. Como um deles já estava, digamos, meio acidentado antes de eu passar, o outro resolveu prestar-lhe auxílio. Não contava, no entanto, o pobre coitado com o infortúnio do destino: a minha desastrosa passagem por cima deles (e com os dois pneus!).

O segundo fato deu-se depois da minha virada cultural antecipada (a parte em que fico acordada até às 6h30 corrigindo os textos). Dormi sonhando com a hora de acordar, pois eu deveria estar no metrô às 8h30 para entregar os textos. Quando eu me arrumei, peguei a bicicleta para poupar tempo e chamei o elevador, descobri que este não estava funcionando. Sem problemas, há outro. Inoperante! Levei alguns segundos pensando se largava a bike e ia a pé, porém eu tinha poucos minutos e cometi a insanidade: desci oito andares pelas escadas com a bicicleta junto. Querer ser uma garota fitness tudo bem, mas isso já era exagero. O que sobrou de mim já estava no primeiro andar e o temporizador da luz começou a piscar. Sem um interruptor por perto, fiquei no escuro e cheguei ao térreo com uma pequena coleção de hematomas e ferimentos. Abro a porta para a luz e vejo a moça da faxina, apontando na direção do estacionamento e me perguntando:

- Moça, você sabe de quem é aquele gato?

O gato. Olhei para ele e surgiu o pânico: lindinho, branquinho, pequenino e estatelado no chão, sangrando um pouco. Respirei e disse à moça que, voltando do metrô, eu a ajudaria a descobrir o dono do gato. Ao retornar, comecei a saga: interfonei para alguns donos de animais e perguntei a alguns passantes. Ninguém sabia de quem era o bicho. Resolvi telefonar para os Bombeiros, mais para me informar sobre quem deveria procurar do que esperando que um carro do resgate, absurdamente, viesse socorrer o moribundo. Os bombeiros me indicaram aquele fantástico disque-tudo da prefeitura para falar com o pessoal do Centro de Zoonoses. Depois de tentar, esperar, a ligação cair e começar tudo de novo umas três vezes, larguei o telefone e fui para perto do gato. Ao menos ele não morreria sozinho, pensei, e fiz-lhe um afago. Então ele começou a miar, coitado, e não agüentei: fiquei ali chorando junto com ele. Algumas pessoas apareceram por causa dos miados, e com a ajuda de uma criança, finalmente descobrimos de quem era o gato: de um morador do quinto andar! Interfonei no apartamento, avisei os moradores; desceram crianças, avó, bisavó e disseram que o dono, dono mesmo, vinha do trabalho para salvar o bicho. Ainda chorando, vi o rapaz levá-lo ao veterinário; mesmo imaginando que seria só para o sacrifício, fiquei um pouco aliviada por acabar com aquele sofrimento.

Voltei para casa, com aquela frustração de quem quase fez faculdade de medicina veterinária, mas desistiu por não gostar de sangue, e rolou aquele momento superpiegas: agarrei o diabo-da-Tasmânia Janis e agradeci por eu ser uma pessoa que não a deixa passar da lavanderia para a sala pelo parapeito externo da janela.

E em seguida o momento bilhete único, passaporte para o inferno!

Indo para o trabalho (o outro!), tomei o bom e velho Step-bus: você, por apenas R$ 2,30, locomove-se pela cidade e pratica uma aula de step! A moderna tecnologia pensada para os portadores de necessidades especias produziu um coletivo em que você: a) sobe os degraus e entra; b) desce os degraus e paga a passagem; c) sobe os degraus e procura um banco e d) desce os degraus a sai. Ou qualquer coisa do gênero. O próximo fato se deu quando eu estava na parte mais alta, levantando-me do banco para descer.


Nós já estávamos de pé, eu, minha bolsa e minha mochila e de repente sinto um abraço em minhas pernas, tentáculos quase me derrubando escada abaixo. Quando me reequilibro e olho, um sujeito, inicialmente sentado, despencou após uma curva, agarrou-se em minhas pernas e levou à boca uma camiseta(!) - gesto este que fez com que eu me desvencilhasse rapidamente, pois imaginei que ele fosse vomitar. Ainda sem entender bem o acontecido, ouço o rapaz pedir mil desculpas; estava dormindo, caiu com a curva, desculpa, desculpa. Eu lhe disse que quase me fez cair, que eu poderia ter me machucado nos degraus, e, fora do ponto, ele pediu ao motorista para descer. O motorista abriu a porta; a criatura passa por mim e fala:

- Desculpa, mas valeu, hein, princesa!

Valeu o quê? O meu mico? Todos os passageiros me olhando? Cheguei a cogitar que ele fez isso de propósito. Afinal, num dia de 48 horas em que ratos se jogam na frente de bicicletas e gatos pulam do quinto andar por falta de elevador, nada de mais um sujeito se jogar aos meus pés, mesmo que isso tenha se parecido mais com uma tentativa de assalto do que com um arrebatamento por minha beleza...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Bancos

Antes de disputar essa vaga que hoje ocupo, eu trabalhava em banco. Trabalhei no Santander (no tempo em que os clientes perguntavam se a pronúncia era Santandér ou Santânder) e depois no Bradesco. No primeiro eu era hostess, ou a mocinha chata que tenta convencer todo mundo a fazer depósito na máquina. No segundo, eu vendia seguros.

Eram curiosos os tipos que eu via. Mais ainda como hostess, pois eu tinha contato com todo mundo que passava pela agência. Por mais que eu me recusasse, sempre havia alguém me pedindo para digitar sua senha no caixa eletrônico. Desses, era uma senhora espanhola que não enxergava direito. Ficava brava se eu dissesse que não podia e repetia: "Se eu autorizo, ninguém tem nada com isso." Outro era um senhor que tinha fobia de botão. Ele me explicou o problema, que consistia em medo generalizado de apertar teclas e afins. Sei lá se ele explodiu algum lugar apertando o que não deveria.

Também era fácil fazer amizade por ali, virar confidente. Incrível o quanto as pessoas se abrem com estranhos. Um senhor solitário, dono de uma banca de jornais, às vezes ia à agência só para conversar comigo. Fez até um poema para mim. Parece clichê, mas consolei gente chorando, ouvi reclamações (milhares!), ajudei gente na porta giratória... Essa porta, inclusive, rendeu um ridículo strip -tease masculino por parte de um irritadinho. Tirou tudo, até a cueca. E como era dia de pagamento do INSS, eu tive que acudir as velhinhas horrorizadas.

No Bradesco, eu tinha um chefe muito legal. Tão legal que, muitas vezes, eu tinha que interrompê-lo em suas histórias para trabalharmos. Ele adorava contar sobre a minissérie que fez no SBT nos anos 80, e era muito engraçado. Sossegado, me deixou sozinha na agência no meu segundo dia, dizendo que tudo daria certo, era só atender o pessoal. Nesse dia, chegou uma cliente no momento em que eu me levantei para almoçar, perguntando mil coisas que eu não sabia, atrasando em uma hora meu almoço. Após dispensá-la, fui para a lanchonete ao lado da agência e, minutos depois, comecei a ver uma, duas, três, cinco viaturas de polícia chegando. Haviam assaltado o banco assim que eu saí.

O Bradesco também tinha uma figura singular. Uma senhora toda maquiada e sempre de preto estava lá todos os dias. Sentava-se no sofá e passava parte do dia ali. Não pagava contas no caixa, não falava com ninguém. Às vezes, dormia. Quando perguntei, me disseram que o marido dela trabalhou naquela agência. E morreu do coração. Depois disso, ela adotou esse ritual. Chegava a ser poético. Mas eu me questionava: o que ela faria se o marido fosse carcereiro?

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Em Taubaté, concurso para escriturário tem questões sobre BBB e casal "global"


FÁBIO AMATO da Agência Folha, em São José dos Campos

Quem não acompanhou a última edição do "Big Brother Brasil" nem o fim do relacionamento de um casal de atores da TV Globo pode ter ficado de fora da seleção para escriturário da Prefeitura de Taubaté (130 km de SP).
Esses assuntos, entre outros, foram tema da prova do concurso público promovido pelo município no último domingo para a contratação de 40 escriturários (servidor encarregado da escrituração de registros ou expediente em repartição pública).
Ao todo, 1.600 pessoas concorreram às vagas. O resultado sai na próxima semana. Os classificados serão contratados para desempenhar trabalhos burocráticos, por R$ 450 mensais.
"Alexandre, Bianca e Fernando participaram de que edição do programa Big Brother Brasil?" e "Que famoso casal "global" anunciou, recentemente, o fim do casamento?" foram duas das questões. O teste teve 80 perguntas optativas, divididas em português, matemática, informática e atualidades.
Uma das perguntas foi anulada por erro da organização. Questionava o nome do presidente da Câmara Municipal de Taubaté, mas a opção correta --vereador Luiz Gonzaga Soares (PR)-- não constava entre as alternativas.
A seção de atualidades incluiu também questões sobre política ("Quem é o atual prefeito de São Paulo?"), saúde ("Qual é a doença transmitida através do mosquito -Aedes aegypti-?") e esportes ("Quais são os três pilotos brasileiros que disputam a temporada 2008 da Fórmula 1?").
O diretor do departamento de administração da prefeitura, Julio Cesar Oliveira, disse não ver problemas na inclusão das questões na prova. "Diga por que não pode pôr? Isso é uma coisa da administração. Ela resolveu colocar essa questão e pronto."
O presidente da Câmara Municipal criticou a prova. "Esse tipo de pergunta me parece mais relacionada a fofoca do que a conhecimentos gerais. As pessoas poderiam ter sido questionadas, por exemplo, sobre Monteiro Lobato ou Mazzaropi, que fazem parte da cultura de nossa cidade", disse Soares.
Ele afirmou que enviou requerimento ao prefeito Roberto Peixoto (PMDB) solicitando explicações. O documento pede ainda que o prefeito cancele o concurso.



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É isso aí... Quando você ler num edital que o prova terá conhecimentos gerais, entenda conhecimentos globais! Podemos até sugerir algumas questões, como:

- Quem matou Odete Roitmann?

- Em que ano Cid Moreira deixou de apresentar o Jornal Nacional?

- Por que a Glória Maria não está mais no Fantástico?


Foi-se o tempo em que a gente desligava a televisão e estudava para um concurso...

terça-feira, 15 de abril de 2008

Missão

Amiguinhos...
Segundo uma recomendação, eu removi o texto, mas quem quiser lê-lo, é só me pedir!
Abraços!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Palmito

Eu sou distraída. Não. Eu alterno momentos de atenção e uma boa percepção intuitiva com momentos em que desapareço do mundo e nem eu sei dizer por onde estive. Nesses momentos, muitas vezes, ninguém percebe que deixei o corpo. Não fico com aquela cara de "hã?" dos distraídos. Consigo conduzir uma conversa, perguntar, responder e mais: posso reproduzir tudo depois, como se eu tivesse deixado um gravador ligado, mesmo não estando lá. É claro que não sou superdotada; algumas coisas se perdem nessas minha viagens, uma informação ou outra que, se for realmente relevante, pode me colocar em situações inusitadas. Como o caso do palmito.

Primeiro ano de faculdade. Fiz uma amiga que se tornou inseparável, até porque eu não desgrudava dela. Eu a convenci a comermos um pastel na Rua Teodoro Sampaio, num lugar que ela me disse ser muito bom. Como saímos mais cedo da aula, ela topou.

Chegando na pastelaria, escolhi meu sabor preferido: palmito! Sou louca por palmito, fanática desde criança, só parando de comê-lo por uns meses quando fui a um passeio ecológico em Ubatuba e o monitor nos contou o drama das palmeiras. Só que isso não durou muito, claro, a ecoculpa cedeu ao desejo e tentei me redimir reciclando latinhas.

- Moço, eu quero um pastel de palmito com mozarela.

Porque não basta palmito, tem que ter queijo.

O atendente me informou:

- Não temos palmito, você pode escolher outro sabor.

E foi nesse momento que devo ter entrado em alfa-não-alfa:

- Então me vê um de palmito com catupiri.

Minha amiga me olhou e eu estava linda e maravilhosa, em meu momento de uso pleno da liberdade de escolha.

- Moça, nós não temos palmito.

Sinceramente, eu não sei até hoje o que meu cérebro registrou. Analisei a frase supostamente ouvida por alguns instantes. Depois de conjecturar, mandei minha pérola apoteótica:

- Então... eu quero um pastel só de palmito, por favor.

Foi ridículo. Minha amiga com aquela expressão de "é melhor fingir que não conheço". E o atendente, entre procurar a câmera escondida e tentar desenhar, ficou com a segunda:

- Moça, acabou nosso palmito. Você pode pedir qualquer coisa, mas nenhuma opção que contenha palmito. Você não quer um pastel só de queijo?

Essa foi a hora em que voltei à terra. Nem preciso dizer o meu constrangimento. Minha amiga ria, e por um bom tempo fui chamada só de "Palmito", sem contar as diversas piadas que rolaram sobre o fato.

Eu achei que depois disso ela pudesse se afastar de mim, afinal não pega bem ser vista por aí em companhia tão bizarra. Ao contrário, porém, ela é minha amiga até hoje. No fundo, eu acho que ela quis ver (e viu!) do que mais eu seria capaz.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Quase milionária


Dou a vocês a oportunidade de conhecer uma autêntica ganhadora da Mega-Sena: eu! Sim, contei essa história a uma amiga esses dias e ela mal acreditou. Foi em 2004.

Fazíamos um bolão no trabalho; éramos 9 pessoas, escolhíamos os números e criávamos algumas combinações para aumentar as possibilidades. Até encontramos uma forma interessante de combinar os números, o que nos dava, em teoria, uma chancezinha maior de ganhar. Então, o engenheiro/contador da turma fez umas contas e análises e riu da probabilidade pífia de ganharmos. Mostrou a todos e insistiu: era ridículo continuarmos jogando.

Fizemos o óbvio: dissemos a ele que, se achava tão improvável nossos números serem sorteados, que saísse do bolão. O rapaz, com muito orgulho, desistiu do jogo para provar sua razão. Era uma terça-feira, véspera de sorteio.

Quinta-feira. Meu amigo pegou o resultado pela manhã. Encontrou-me no corredor e disse: "Acertamos. Fizemos a quina." Entre a primeira e a segunda frase, meu cérebro processou acertamos=milionários. Quando o entendimento se completou, minha desconfiança falou mais alto: "Você tem certeza? Fizemos mesmo?" Sim, volante conferido na lotérica e tudo.

A emoção de quase-milionária-mas-não-e-mesmo-assim-ganhadora me dominou. Meus olhos se encheram d'água. Perguntei quanto seria o prêmio, pois a Mega-Sena estava acumulada. Cada integrante do bolão levaria R$ 1.100,00. Esses R$ 100,00 graças à desistência do engenheiro que, incrédulo e inconsolável, por muitas horas esperou que lhe disséssemos ser mentira a nossa sorte.

R$ 1.100,00. Meio de mês, sem grana. Botei ordem nas contas e me dei uma bolsa de presente. E conforme a alegria foi se dissolvendo no cotidiano, fomos nos voltando para um fato: por um, apenas um número não teríamos, cada um, três milhões e trezentos mil de um prêmio acumulado em 30 milhões de reais. Três milhões. Pra parar de trabalhar em grande estilo. E para minha surpresa, descubro que o número não jogado foi o 19. Nada de mais, não fosse eu uma constante jogadora de datas. Nada de mais, não fosse o 19 data do meu início de namoro. Nada de mais, não tivesse eu "parado com essa bobagem de jogar em datas" exatamente na última vez em que forneci meus números para o jogo.

A bolsa não era de couro e estragou em poucos meses. Até hoje tentamos o 19.