terça-feira, 18 de novembro de 2008

Virada Esportiva 2008


Como é sabido, não sou uma atleta e estou longe disso – sou, no máximo, uma esportista bem amadora. Flertei com academias, mas não gosto muito daquele climinha de malhação solitária e música putz putz. Fiz capoeira por alguns anos, esporte que adoro e ao qual pretendo voltar. Mas minha paixão mesmo descobri recentemente: a bicicleta. Desde criança eu sempre gostei da sensação de liberdade que ela proporciona; só que agora, descobri-la como um meio de transporte eficiente é sensacional.

Participei da segunda Virada Noturna de Bike; foram 80 km pedalados, contando a ida e a volta para casa. A primeira foi inesquecível, não só pela energia do evento como por, aos trancos e barrancos, eu ter conseguido a façanha inimaginável de terminar o percurso de 69 km. Fora o tombo voltando para casa; depois de obstáculos muito mais difíceis, eu caí sozinha por causa de uma guia de calçada.

Essa segunda Virada eu não sabia se terminaria ou não; vinha treinando um pouquinho, mas nada que chegasse perto dos 65 km a percorrer. Saímos do Parque das Bicicletas, no Ibirapuera, às 21h40 do sábado. Eu estava em companhia do meu marido, do meu sogro, que encara longas distâncias aos 60 anos, e das meninas do Saia na Noite, com quem costumo pedalar às terças-feiras. A saída é uma animação só: fotos, entrevistas, Gatorade e mais 650 ciclistas.

Contornamos o Ibirapuera quase parando, de tanta gente que aderiu ao passeio. Resolvi me posicionar mais à frente, já que sabia que logo mais, na subida da Rua Sena Madureira, eu ficaria para trás, levando a bike a pé. E qual não foi a minha surpresa ao perceber que estava subindo a rua, pensando na música You can always get what you want, dos Rolling Stones, e ultrapassando outros ciclistas! Devagar e sempre, subi a longa rua, feliz da vida por ter evoluído um nível no mundo dos esportes! Nunca tive vergonha de descer da bicicleta e pegar uma subida levando-a na mão, mas superar isso foi ótimo! E lá fomos nós ao Museu do Ipiranga, primeira parada.

Fizemos praticamente um piquenique na grama, com direito a mais fotos e a um bom bate-papo. De lá, saímos até a Estação da Luz; passamos pelos arredores da Praça da República, famoso reduto de bares gays, onde a paquera rolou explicitamente – os moços dos bares cantando os moços ciclistas...

Da Luz, fomos para o Sambódromo, onde havia mais eventos da Virada Esportiva. Nessa hora, encontrei o senhor da bike com caveiras e bonecas com pregos; ficar do seu lado era ótimo, porque ele levava um rádio que só tocava clássicos do rock, mas toda vez que eu cantarolava alguma coisa, ele tocava uma sirene ensurdecedora, acho que querendo dizer “Foi desclassificada”! Do Sambódromo rumamos ao Estádio do Pacaembu, para uma volta olímpica. Subimos a Avenida Sumaré, e mais uma vez eu subi pedalando, acreditando estar possuída pelo espírito de algum ciclista morto, porque duas ladeiras na mesma noite eram uma aberração para mim. Demos uma voltinha pela Avenida Paulista e descemos a Avenida Rebouças, a qual nunca tive o prazer de descer de bike, muito, mas muito mais rápido do que jamais desci de ônibus ou carro. A essa hora já estava batendo um sono louco, desses de encostar e desmaiar. Chegamos ao Parque do Povo, última parada da noite. Lá, conheci uma senhora que havia acabado de chegar para o último trecho: ela tinha 81 anos e trazia sua bicicleta Peugeot original, de 1937! Contou-me, com os olhos marejados, que seu marido falecera havia 4 meses, e que ele sempre fora um incentivador quanto aos esportes. Pedalamos de volta ao Parque das Bicicletas com ela acompanhando, sem marchas, sem suspensões pelos 4 km restantes. Quero chegar aos 80 assim!

Por enquanto, completar o trajeto foi muito bom! Cheguei ao final firme e forte, ou melhor, pernas bambeando, com sono e fome, e cogitei voltar para casa pedalando. Tomamos um café da manhã pra animar, mas passar em frente à estação do metrô foi tentador: não resisti, e pudemos cochilar um pouquinho na volta para casa, às 7h30 do domingo. Aliás, que domingo? Depois que cheguei, quando acordei de novo já era segunda...

Virada Esportiva 2009, estarei lá! Espero conseguir abandonar de vez esportes como devoramento de pizzas e subir com tranqüilidade as ruas de bairros como Perdizes ou Tucuruvi, onde acredito que o grau de inclinação beire os 90°... e sem estar possuída por nenhum espírito!
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