quinta-feira, 4 de março de 2010

Ser Mulher

Ser mulher é, aos doze anos, não saber fritar um ovo. Mas pegar a máquina de solda do pai às escondidas e soldar os fios partidos do velho walkman. É não sonhar casar de branco na igreja. É amar cabelos curtos. É pensar 137.983 vezes se quer mesmo ser mãe, porque acha que não leva o menor jeito pra isso. É amar carros e ser louca pra andar de kart. É conhecer todos os alimentos que não exijam mais de cinco minutos para ficarem prontos. É explodir um bolo no microondas porque não quer gastar mais de cinco minutos assando-o no forno a gás. E ainda duvidam das minhas habilidades femininas! Há uns três anos, no meu trabalho, recebi uma missão impossível (uma pena, mas Tom Cruise não me solicitou). Fui atender uma autoridade que precisava de um favor. Ele queria que alguém comprasse uma peça para uma máquina de moer capim para gado (não perguntem nada, por favor). Ao me ver, explicou para que servia a peça e eu disse que poderia comprá-la na Rua Florêncio de Abreu, onde vendem maquinário agrícola. Ele perguntou:

 - É você quem vai? - Sim, doutor. - Mas...

- Mas? - Você é mulher! Não tem nenhum rapaz que possa fazer isso não?

Não tinha, eu fiz. Será que ele não sabe que mulher “adora comprar”?

E dia desses, resolvi trocar um interruptor na minha casa, pois o espelho não encaixava mais (vejam só, vocabulário técnico!). Fui a um depósito, onde pedi o interruptor, entreguei meu cartão de débito e perguntei como instalar. Após a explicação do vendedor, a pergunta:

-É você quem vai instalar?

- Sim!

Ele riu. Muito. Prefiro imaginar que ele tenha rido porque era fácil demais. Prefiro pensar também que ele não ter a máquina para o meu tipo de cartão não fosse castigo. Mas eu, mesmo tendo dinheiro no bolso, não contei nada para ele e não comprei. Comprei em outro lugar, pagando até mais caro. Em casa, desliguei todas as chaves elétricas, até as do chuveiro. E foi tão ridiculamente fácil que me senti mal por não ter feito antes. Afinal, quem disse que não é coisa de mulher?