sábado, 17 de maio de 2008

O misterioso velho da cadeira de rodas



Era o ano de 2002. Eu estava na estação Clínicas do metrô indo sei lá para onde, devido a esse meu espírito andarilho que me faz percorrer a cidade toda. Assim que o trem chegou, entrei no meu vagão preferido (sim, eu tenho vagão preferido) pela porta que mais gosto (sim, eu tenho porta de que mais gosto) e como estava vazio, cismei de sentar no banco cinza, aquele reservado a idosos, gestantes, etc. Mais uma daquelas que faço sem pensar. Ou então, num gesto altruísta, eu me sentei pensando em ceder gentilmente o lugar assim que entrasse o primeiro velhinho desamparado. Pois na mesma estação, só que por outra porta, entrou aquele senhor que parecia beirar os setenta anos, barrigudo, calvo e de um nariz enorme, desses que parecem crescer a vida toda. O inusitado era o que ele levava: uma cadeira de rodas vazia. Talvez não tão inusitado, foi o que me ocorreu; estávamos perto do hospital.

E ele veio em minha direção. Empurrava a cadeira de rodas com cara de bravo. Ao se postar à minha frente, começou a resmungar e bater a cadeira nas minhas pernas. A princípio, ignorei; tantos lugares vagos, não era possível que ele quisesse se sentar ali. Era. Ele insistiu resmungando e seguindo uma das minhas diretrizes, que pede para que não se contrarie pessoas estranhas (não no sentido de desconhecidas) eu troquei de lugar sem falar nada. Segui viagem observando aquele gentil senhor explorar habilmente as profundezas do seu nariz.

Como fato estranho a gente espalha, ao me lembrar disso certo tempo depois, contei a um amigo o que se passara. Nesse mesmo dia, volto para casa e, misteriosamente, avisto o mesmo senhor narigudo, mal-humorado, empurrando uma cadeira de rodas vazia, atravessando a rua da minha casa! (Aqui vai até um tom de voz à Gil Gomes). Parecia que ao contar a história, eu invocara magicamente o estranho velho. O detalhe é que eu morava no Butantã, que nem era perto das Clínicas e onde nem havia metrô. Dessa vez não fizemos contato; tratei de entrar em casa sem nem olhar muito pra ele.

Comigo, no entanto, bizarrice pouca é bobagem. Ano 2007. Dada a sua idade avançada, o velhinho, sem maldade alguma, poderia ser considerado morto. Eu estava nas imediações da estação Ana Rosa do metrô, a caminho de um ponto de ônibus para ir embora. E no ponto, havia certo tumulto, as pessoas aborrecidas afastando-se de alguém que as incomodava. Quando finalmente posso ver quem era a causa do tumulto, espantosamente vejo o velho – e não estava só. Consigo levava a inseparável cadeira de rodas vazia. Pretendia pegar um ônibus, o que lhe seria custoso com a bagagem que trazia, mas não pude ver como fez, já que meu coletivo passou antes – talvez até para minha sorte. Por enquanto não o tenho visto mais, e, se alguém vir esse ser pela cidade, cuidado: ele pode pedir seu lugar e segui-lo para sempre.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Nota sobre o gato II

Notícias atualíssimas sobre o gato que caiu do quinto andar! Soube hoje que, mais do que estar vivo e passar bem, o bichano está completamente recuperado, tendo eu sido convidada a vê-lo qualquer hora. Como preciso ver para crer, pretendo mesmo visitá-lo, porque não é possível que o gato esteja de novo feliz e saltitante depois do estado em que o vi. Definitivamente, além de acreditar em extraterrestres, agora acredito em sete vidas de gatos. Para completar minhas experiências existenciais, preciso encontrar um gnomo no jardim.