terça-feira, 19 de agosto de 2008

Celular

Toca meu celular.

- Alô?

- Alô, é a Tia Karina?

- Oi, Maria Clara!

Vozinha mega eufórica do outro lado. Nem respirava direito.

- Tia Karina, eu te liguei sozinha! Sozinha!

- Sério? Passa o telefone pra mamãe.

- Mamãe não tá aqui, tá no banho.

- Ah, pode parar de brincar, a mamãe está aí.

- Peraí que eu vou chamar a mamãe.

Ouviu-se "mamããããe!". E ouviu-se também a voz da minha irmã dizendo, entre outras coisas, "não ponha o celular embaixo do chuveiro!!"

- Então, Tia Karina, minha mãe está tomando banho.

- Puxa, como você me ligou?

- Eu estava mexendo no celular da mamãe, vi a letrinha do seu nome, apertei e ele ligou pra você!

Não se cabia de felicidade. Encerrei a conversa, para o bem da conta da minha irmã. Menos de cinco minutos depois, meu celular tocou novamente.

- Tia Karina?

- Oi.

- Onde você está?

- Na rua.

- O que você está fazendo?

- Maria Clara, não posso falar agora, depois a gente conversa, tá?

- Tá, beijo.

- Beijo.

Desliguei. Tocou de novo.

- Tia Karina, esqueci, manda um beijo pra Janis.

- Tá bom, beijo.

- Beijo.

Desliguei. Novo toque.

- Tia Karina?

- Fala!

- Fiquem com Deus, você e a Janis.

- Você também, beijo.

- Beijo.

Desliguei. Quando começou a tocar de novo, atendi e aí falei:

- Dona Maria, cadê sua mãe?

- Tá no banho ainda.

- Ela vai te matar se souber que você está me ligando o tempo todo. Não pode, vai gastar os créditos dela e aí não poderemos conversar mais.

- É?

- É.

- Não vou ligar mais, tá bom?

- Tá. E fala pra sua mãe me ligar, viu?

- Tia Karina, o que você vai falar pra ela?

- Eu quero conversar com ela.

- Conversar o quê?

- Maria Clara, eu preciso conversar várias coisas com sua mãe!

- Mas Tia Karina... você não vai conversar com ela pra falar que eu te liguei, né?

Assim caminha a humanidade, e é assim que uma criança aprende a usar o celular aos quatro anos de idade.


Ooops...

Mão nada boba...


sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Over the rainbow



E no meio do caos de carros, ônibus, poluição, fios...

Eis o arco-íris.

Após uma tempestade de verão em agosto, nada mais normal do que um raro arco-íris de inverno. E lindo assim bem no centro da cidade, espremendo-se entre prédios e postes, me fazendo parar para fotografá-lo da praça, sob olhares curiosos que não se erguiam para ver o que eu fotografava...



segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Idiossincrasias de um cão

Janis tomando um solzinho...


Ao contrário do que muitos pensam, cuidar de um cão é fácil. Exige um pouco de paciência e disponibilidade (que nem precisa ser tanta assim). Financeiramente, também não é muito traumático: gasta-se mais com vacinas no começo, mas se for um cão pequeno, o gasto com alimentação e antipulgas é relativamente baixo.

Isso tudo para um cão comum. Em se tratando de Janis, meu exótico exemplar, as coisas mudam um pouco. Quando filhote, tentava-se de tudo para que o jornal fosse aceito como único banheiro. Qualquer filhote passa por isso, mas a teimosia dela foi um desafio para mim. Tentei o tapetinho higiênico. Ela adorou arrastá-lo pela casa. Tentei o Pipi Dog. Às vezes funcionava, sempre que eu colocava as gotinhas no jornal ela ia cheirar e funcionava meio que como rapé, para ela ficar espirrando. Só usava o jornal uma ou duas vezes. Aí tentei o efeito inverso: borrifar o Bad Place pela casa toda, um produto que garante repelir o cão quando ele quiser fazer necessidades. Se a Janis pudesse rir disso, ela riria. Então tentamos a psicologia canina: repreender toda vez que ela se esquecesse do jornal. Quase funcionou, mas criou nela um hábito no mínimo estranho; até hoje, quando ela faz alguma coisa errada, ela não espera mais bronca e se autocastiga, indo se esconder atrás do sofá e ficando lá por muito tempo. É só a Janis sumir e já sabemos que alguma coisa aconteceu.

O que funcionou mesmo foi o bifinho, santo bifinho. Para quem não sabe, é aquela tirinha de carne com um cheiro meio nojento, bem parecida com a que se vende para humanos no caixa do supermercado. Cada vez que ela usava o jornal, ganhava um bifinho. E criando-se uma relação de interesse, consegui fazer com que ela adotasse um único banheiro. Às vezes ela ainda falha, mas me poupa o trabalho de castigá-la graças ao autoflagelamento.

Dependendo da raça, atenção é fundamental. No caso da Janis é vital. Quando chego em casa, sou recebida com pulos de 1,50m de altura. Se não converso logo com ela, começa a chorar. Ah, mas se demoro pra chegar também... aí sofro retaliação. Encontro o jornal-banheiro todo picado, mas picado em pedacinhos bem pequenininhos, como se fosse uma mensagem: "Tá vendo, você demora, eu fico ansiosa!". E antes mesmo que eu lhe diga um oi, ela corre para trás do sofá para se castigar.

A Janis também tem suas manias. Estranhas, diga-se de passagem. Como a de se sentar onde alguém acabou de levantar, no melhor estilo "foi passear, perdeu o lugar". Ela gosta de jogar seus brinquedos em lugares que não consegue alcançar, e fica chorando até que alguém os pegue. Para em seguida jogar de novo. Se estamos fazendo qualquer coisa que não seja lhe dar atenção, ela adota duas táticas. Uma é sentar-se no colo de alguém, de modo que nenhuma outra atividade possa ser realizada. A segunda é vir com uma das suas bolinhas. Não é necessário puxar a bolinha da sua boca. Ela mesma agarra o braço do escolhido, fica batendo a bolinha na mão e rosnando. Sem que se mexa o braço! Além de autocastigante, é um cão autobrincante também.

Há ainda as palavras proibidas. Não se fala perto dela os verbetes "passear", "vamos" e "rolê" (pois é, alguém ensinou gíria à cadela). Isso é catastrófico. Ao ouvir tais palavras - assim como ao ouvir o interfone - ela incorpora o diabo-da-tasmânia e parece enlouquecida, correndo pela casa toda, chorando, latindo e pulando. Não crendo que ela reconhecesse palavras, fiz uns testes, dizendo outras coisas no mesmo tom de voz que diria "vamos passear". Ela não reagiu. Aí comecei algumas experiências: nomeei cada um dos seus brinquedos e, se ela os trouxesse corretamente quando eu pedisse, ganhava um bifinho. Hoje, sem bifinho, é como se ela entendesse perfeitamente a linguagem humana. Fora alguns truquezinhos, como sentar, deitar e rolar. Às vezes ela ainda se atrapalha e, na tentativa de ganhar um premiozinho qualquer, ela deita, rola e senta quase simultaneamente a um único comando.

Janis tem cara de cão maluco. Se houvesse um hospício para cães, poderia se dizer que ela fugiu de lá. Como eu disse no início, não é complicado cuidar de um cachorro. Basta ter paciência a cada almofada destruída, a cada meia encontrada nalgum esconderijo secreto, a cada xixi no lugar errado. Descobre-se que ela existe se, cinco minutos depois de querer dar um Red Bull ao bicho para jogá-lo pela janela, não for possível resistir ao seu olharzinho triste e manipulador. Mas já vou avisando: pelo menos finja por um tempinho que esse olhar não o domina. Se o cão perceber o próprio poder, aí seu dono está perdido...
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