terça-feira, 27 de abril de 2010

Voar, voar, subir, subir...



Primeiro vôo. Curtinho, de São Paulo só até Curitiba. No entanto, para quem sofre de episódios de acrofobia, e tem como seriado favorito um sobre um acidente aéreo, parece algo aterrorizante. Pelo menos me pareceu assim que confirmei a compra da passagem pela internet. Comecei a interrogar todos os amigos que já voaram tentando encontrar coragem. Afinal, eu já travei em trilhas à beira de despenhadeiros, alegando que só sairia resgatada pelos bombeiros. Sob o mais completo pânico. Os amigos todos me disseram que voar não dá medo, que pode ser até divertido. Ah, tá.


A vida inteira eu tive um sonho recorrente. Sempre com aviões caindo e eu do chão, observando a queda e a explosão. Lembrei-me disso a caminho do aeroporto. Para relaxar, pensei em ligar o rádio do carro. Tive medo de ouvir “La Bamba”, deixei pra lá. Cheguei a Cumbica preocupada, mas tentando fazer um ar blasé. Despachei minha mala pensando nas lendas urbanas sobre bagagens desaparecidas. Separei meu livro, uma água e um pacotinho de M&M’S. Morreria com sabor de chocolate.


Fiquei junto ao portão de embarque por 40 minutos, ouvindo Dead Can Dance e Beatles no celular. Estratégias que não estavam funcionando. Também tomei um Dramin, calculando a possibilidade de dormir e não ver nada. Parecia que tinha tomado energético. E quando finalmente chamaram meu vôo (eu gosto do circunflexo no ô, vou usá-lo até o último dia da antiga grafia) e entrei no finger, pensei em desistir. Mas seria ridículo, meus primos já estavam me esperando e eu não me perdoaria nunca. Entrei no avião. Apertadíssimo. Quando sentei na minha poltrona do meio, considerei mais uma vez levantar e sair. Tive a idéia de conversar com o “aeromoço”, me abrir sobre meu pavor, pra ver se ele me acalmava. Ele não tinha cara de “fala que eu te escuto”. Por fim, tentei puxar conversa com o homem do meu lado. Ele queria cochilar.


- A Webjet deseja aos senhores um ótimo webvôo!


Ainda por cima, climinha de Hopi Hari. Ouvi todas as instruções. Li o folheto sobre o que fazer em emergências. O “aeromoço” avisou que em caso de pouso na água, é só levar as poltronas para sair pelo fundo do avião, pois elas flutuam! Ótimo! Pelo menos eu não morreria afogada! E dá-lhe exercícios respiratórios para não entrar em pânico. Até que ligaram os motores. Fechei os olhos. E quando a aeronave acelerou na pista e começou a decolar, eu só pensava uma coisa:


- Eu vou mor-rer!


De ataque cardíaco, talvez. O estômago me pareceu grudar nas costas. Agarrei os braços da poltrona e me deu uma vontade louca de pedir para os dois homens ao meu lado me darem as mãos. Fui orgulhosa e não pedi (ainda bem – um mico a menos nessa vida). Mas a lagriminha de terror estava lá, penduradinha no meu olho. O homem à minha esquerda se compadecera e finalmente resolveu conversar comigo. Explicou-me como seria o vôo. Mostrou a represa de Guarapiranga. Avisou que voaríamos próximo ao litoral. Disse que nos serviriam refrigerantes. E contou que preferia viajar de moto.


Eu não queria olhar muito pela janela. Mas fui me acalmando. E quase ao pousar, o bom curitibano me alertou:


- Vai dar um pequeno tranco ao encostar na pista.


Fui a única que gritou “ui” durante o tranco. A crise de pavor virou crise de riso. E metade do avião já queria saber quem era a maluca do vôo.


Foram ótimos dias por lá. Ao voltar, estava um pouquinho receosa, mas uma mulher começou a conversar comigo e já ríamos antes de sair da pista. Achei a decolagem uma delícia e o vôo, sobre o mar com o litoral ao fundo, a coisa mais linda. Sobrevoar minha cidade e reconhecer os lugares, então, emocionante. E nem senti o pouso.


Só falta agora aprender a pilotar...