quarta-feira, 27 de abril de 2011

Limpando a poeira ou Tartaruga

Deixei este blog muito empoeirado. Uma tristeza!!! Mas foram bons motivos...

Descobri uma nova paixão que me ocupa, me cansa, porém não pretendo abandonar tão cedo: lecionar! Suspeitava que fosse bom, só que é melhor do que eu imaginava. Por isso postagens tão espaçadas.

No entanto, tenho redescoberto uns textos antigos meus, e acho curioso lê-los tantos anos depois. Mais do que lê-los, me deu vontade de fazer algo que pouco ou nunca fiz: compartilhá-los publicamente. Aqui vai um de 1997, quando eu tinha 18 anos e que, paixões e exageros à parte, é um dos meu favoritos:



"Uma tartaruguinha. Preciso ter uma tartaruguinha logo. Afinal, ela vive por volta de 60 anos e, quando eu morrer, não quero que ela fique sozinha. É triste demais ser só.

Assim como parece triste ser tartaruga. Sua casa, seu casco, sua lenta e solitária inexpressão... Por isso me identifico tanto. Talvez não doa para a tartaruga ser ela mesma. Ela não se humaniza como um cão. Mas dói para mim ser eu mesma.

Sua vida é longa e lenta demais. Cada ano deve lhe parecer eterno. Assim como a dor, no auge, parece eterna. Desesperadamente eterna, sofrivelmente sem fim.

Duas tartarugas. Posso morrer deixando-lhes sempre bastante alimento e elas se farão companhia. Porém uma deverá partir primeiro que a outra. E caímos no mesmo vazio.

E se ela for primeiro do que eu? Isso tende a ser mais triste. É certo que ela sentiria minha falta como uma morte todas as vezes que eu saísse. Todavia, eu me sentiria extremamente só.

Só. Você sente isso quando não tem ninguém por perto ou, mesmo diante de todos, quando não se tem quem quer. Essa é a pior face da palavra só. Ninguém me traria tartaruguinha de volta, sendo que é mais fácil para ela se afeiçoar a outra pessoa. Ou tartaruga.

Isso é coisa de gente só. Gente que não conseguiu uma companhia para ter filhos e não ter tempo de pensar em tartarugas. Isso é coisa de gente desiludida, que não quer ter filhos de mais ninguém, se não for aquela pessoa perfeita para substituir uma tartaruga."


Para Tisbe Catarina, a tartaruga que vim a ter alguns anos depois.


terça-feira, 24 de agosto de 2010

Revirando o baú



É, amiguinhos, ando espaçando demais as postagens. Muito trabalho, muita aula, muita redação, pouca vida virtual. Revirando o baú, achei algo que resolvi postar hoje. É das antigas; sem data, mas pelo conteúdo, ouso afirmar que deve ser de 1999. Aqui vai exatamente como o original, com a citação (sem fonte!) e tudo:


"A sala absurdamente quente, insetos voando com inconveniência. Chego atrasada e com pouca vontade, arrumo um lugar cheio de pó de giz. E tento entender o que acontece. Murilo Mendes, poesia impenetrável, impermeável. Mas a voz, a voz que a dizia... Calor. Sono vindo como a única fuga possível do inferno. Tento não sucumbir porque às vezes ele me olha. Mesmo num canto cheio de pó de giz e só a mim pertencendo, ele me olha. Como olha para os demais, é claro. Aquele corpo grande, um homem alto, quase loiro. Jeito de experiente. Uma aparente timidez e um prazer em dizer o que diz. Vai e volta ao redor da mesa de maneira irritante. Calor e mal estar. Mas ele olha de novo, não, não posso sair. Aquela voz, voz firme e suave, quase doce. Vai e volta, levemente curvado, talvez pelo peso do que só ele deve saber.

Poesia sensual. Ele esboça um riso tímido. Qualquer interpretação seria arbitrária, o poema não permite, lisol, que raio é lisol? Camisa e calça jeans. Eu na minha saia e blusa, tentando mal sei o quê, mas muito cara de secretária, acho que não funciona. Apóio a cabeça nas mãos, meu rosto se contrai de dor, uma dor que só o calor me causa. Dor pelo inferno iminente do próximo verão. Dor perturbando minha mente, eu tento, quero entender, li “A Sagração da Primavera” e me fascinei. Tudo bem que passei a noite lutando no front, derrubando helicópteros. Eu sou assim, leio e sonho a noite toda.

Digressões. Ele faz isso o tempo todo, mas exalando paixão por fazê-lo. Eu em delírios, neurônios em pane, superaquecidos. O assunto está bom, quero entender, mas não é só o inferno tropical que me tira o ar. A voz, a voz, sua voz e penso o impossível. Não me importa se é comprometido ou não, eu o desejo como for, quero-o por um momento. Ele nota minha expressão de dor. Calor, vertigem. Muito quente. Imagino-o, imagino a mim junto dele, meu corpo colado no dele, sua voz, sua respiração. Que perfume será que tem? Que será que costuma dizer a uma mulher? E Murilo Mendes impenetrável. Tem Prometeu como inspiração. Que faço do que desejo, que faço dessa distância, desse abismo que me atrai?

Fim da aula. Entrego meu trabalho, digo qualquer coisa sem sentido só para ter por segundos sua atenção. Não consigo olhá-lo nos olhos. Demoro a sair da sala, limpo o pó de giz do meu inútil casaco e de minha pasta. Despeço-me quase invisivelmente; porém ele vê e retribui. Então, sei que ele .

Vou ao xerox. Tiro cópias encomendadas de bobagens, procuro um texto para trabalho. De repente, ele ao meu lado. Desmorono, perco o rumo. Junto o que é meu e nesse tempo ele desaparece.

Vou embora por caminhos noturnos e perigosos. Há muito tempo não andava pela grama escura e sinistra sozinha. Perigoso é o que tenho feito do que sinto. Perigosos são os caminhos da minha vida.


'Sem esperança, não surge o inesperado.'"

terça-feira, 27 de abril de 2010

Voar, voar, subir, subir...



Primeiro vôo. Curtinho, de São Paulo só até Curitiba. No entanto, para quem sofre de episódios de acrofobia, e tem como seriado favorito um sobre um acidente aéreo, parece algo aterrorizante. Pelo menos me pareceu assim que confirmei a compra da passagem pela internet. Comecei a interrogar todos os amigos que já voaram tentando encontrar coragem. Afinal, eu já travei em trilhas à beira de despenhadeiros, alegando que só sairia resgatada pelos bombeiros. Sob o mais completo pânico. Os amigos todos me disseram que voar não dá medo, que pode ser até divertido. Ah, tá.


A vida inteira eu tive um sonho recorrente. Sempre com aviões caindo e eu do chão, observando a queda e a explosão. Lembrei-me disso a caminho do aeroporto. Para relaxar, pensei em ligar o rádio do carro. Tive medo de ouvir “La Bamba”, deixei pra lá. Cheguei a Cumbica preocupada, mas tentando fazer um ar blasé. Despachei minha mala pensando nas lendas urbanas sobre bagagens desaparecidas. Separei meu livro, uma água e um pacotinho de M&M’S. Morreria com sabor de chocolate.


Fiquei junto ao portão de embarque por 40 minutos, ouvindo Dead Can Dance e Beatles no celular. Estratégias que não estavam funcionando. Também tomei um Dramin, calculando a possibilidade de dormir e não ver nada. Parecia que tinha tomado energético. E quando finalmente chamaram meu vôo (eu gosto do circunflexo no ô, vou usá-lo até o último dia da antiga grafia) e entrei no finger, pensei em desistir. Mas seria ridículo, meus primos já estavam me esperando e eu não me perdoaria nunca. Entrei no avião. Apertadíssimo. Quando sentei na minha poltrona do meio, considerei mais uma vez levantar e sair. Tive a idéia de conversar com o “aeromoço”, me abrir sobre meu pavor, pra ver se ele me acalmava. Ele não tinha cara de “fala que eu te escuto”. Por fim, tentei puxar conversa com o homem do meu lado. Ele queria cochilar.


- A Webjet deseja aos senhores um ótimo webvôo!


Ainda por cima, climinha de Hopi Hari. Ouvi todas as instruções. Li o folheto sobre o que fazer em emergências. O “aeromoço” avisou que em caso de pouso na água, é só levar as poltronas para sair pelo fundo do avião, pois elas flutuam! Ótimo! Pelo menos eu não morreria afogada! E dá-lhe exercícios respiratórios para não entrar em pânico. Até que ligaram os motores. Fechei os olhos. E quando a aeronave acelerou na pista e começou a decolar, eu só pensava uma coisa:


- Eu vou mor-rer!


De ataque cardíaco, talvez. O estômago me pareceu grudar nas costas. Agarrei os braços da poltrona e me deu uma vontade louca de pedir para os dois homens ao meu lado me darem as mãos. Fui orgulhosa e não pedi (ainda bem – um mico a menos nessa vida). Mas a lagriminha de terror estava lá, penduradinha no meu olho. O homem à minha esquerda se compadecera e finalmente resolveu conversar comigo. Explicou-me como seria o vôo. Mostrou a represa de Guarapiranga. Avisou que voaríamos próximo ao litoral. Disse que nos serviriam refrigerantes. E contou que preferia viajar de moto.


Eu não queria olhar muito pela janela. Mas fui me acalmando. E quase ao pousar, o bom curitibano me alertou:


- Vai dar um pequeno tranco ao encostar na pista.


Fui a única que gritou “ui” durante o tranco. A crise de pavor virou crise de riso. E metade do avião já queria saber quem era a maluca do vôo.


Foram ótimos dias por lá. Ao voltar, estava um pouquinho receosa, mas uma mulher começou a conversar comigo e já ríamos antes de sair da pista. Achei a decolagem uma delícia e o vôo, sobre o mar com o litoral ao fundo, a coisa mais linda. Sobrevoar minha cidade e reconhecer os lugares, então, emocionante. E nem senti o pouso.


Só falta agora aprender a pilotar...




quinta-feira, 4 de março de 2010

Ser Mulher

Ser mulher é, aos doze anos, não saber fritar um ovo. Mas pegar a máquina de solda do pai às escondidas e soldar os fios partidos do velho walkman. É não sonhar casar de branco na igreja. É amar cabelos curtos. É pensar 137.983 vezes se quer mesmo ser mãe, porque acha que não leva o menor jeito pra isso. É amar carros e ser louca pra andar de kart. É conhecer todos os alimentos que não exijam mais de cinco minutos para ficarem prontos. É explodir um bolo no microondas porque não quer gastar mais de cinco minutos assando-o no forno a gás. E ainda duvidam das minhas habilidades femininas! Há uns três anos, no meu trabalho, recebi uma missão impossível (uma pena, mas Tom Cruise não me solicitou). Fui atender uma autoridade que precisava de um favor. Ele queria que alguém comprasse uma peça para uma máquina de moer capim para gado (não perguntem nada, por favor). Ao me ver, explicou para que servia a peça e eu disse que poderia comprá-la na Rua Florêncio de Abreu, onde vendem maquinário agrícola. Ele perguntou:

 - É você quem vai? - Sim, doutor. - Mas...

- Mas? - Você é mulher! Não tem nenhum rapaz que possa fazer isso não?

Não tinha, eu fiz. Será que ele não sabe que mulher “adora comprar”?

E dia desses, resolvi trocar um interruptor na minha casa, pois o espelho não encaixava mais (vejam só, vocabulário técnico!). Fui a um depósito, onde pedi o interruptor, entreguei meu cartão de débito e perguntei como instalar. Após a explicação do vendedor, a pergunta:

-É você quem vai instalar?

- Sim!

Ele riu. Muito. Prefiro imaginar que ele tenha rido porque era fácil demais. Prefiro pensar também que ele não ter a máquina para o meu tipo de cartão não fosse castigo. Mas eu, mesmo tendo dinheiro no bolso, não contei nada para ele e não comprei. Comprei em outro lugar, pagando até mais caro. Em casa, desliguei todas as chaves elétricas, até as do chuveiro. E foi tão ridiculamente fácil que me senti mal por não ter feito antes. Afinal, quem disse que não é coisa de mulher?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Dia de Todos os Santos


Domingo, quase hora do almoço. Toca a campanhia do apartamento. E iniciou-se a cena que eu achei que só acontecesse em filmes americanos:

- Doce ou travessura?

Caramba, nem era mais dia 31 de outubro, que fora na véspera. Eu estava de roupão, descabelada, no meu processo de acordar num domingo. Isso pode levar horas.

- Bem, eu vou ver se tenho algum doce...

As meninas ficaram na porta, ansiosas. Perceberam minha busca pela cozinha: eu abria geladeira, armários, procurava e nada. Não cozinho, e doces duram pouco em minha casa. Tentei:

- Olha só, eu tenho esse pacote de bolacha cream cracker...

Elas me fitaram com espanto.

- Vocês podem passar geléia, fica uma delícia!

- Não tem uma balinha?

- Não, só a bolacha mesmo, mas podem levar!

Elas não acreditavam:

- Ah, tá bom, moça, não precisa então...

Não era possível recusarem oferta tão espetacular:

- Vocês não querem mesmo???

- Não, obrigada, fica pra outra vez...

E estava feita a travessura. Recusaram meu pacote de cream cracker! Num mundo tão globalizado e moderno, onde se comemora Halloween no Brasil e se pede doces em primeiro de novembro, por que não levar uma bolacha salgada? Ora, ora...


domingo, 26 de julho de 2009

Continho de verão



Passeando em Ilhabela com a família. Resolvemos tomar sorvete no centro da cidade. Eu dirigia. Verão, muita gente, difícil achar uma vaga para estacionar. Eis que surge uma, onde cabia um carro certinho. Pensei duas vezes. Eu sei fazer baliza sim, mas exatamente como aprendi na auto-escola: com aqueles cabos de vassoura de marcação, não entre carros. Afinal, a gente não aprende desse jeito ao tirar carta. Como já rodáramos muito, resolvi tentar.

Baliza não é baliza sem platéia. A vaga era em frente a um ponto de ônibus cheio de gente, claro. Primeira tentativa. Nada.

Segunda tentativa. Nada.

Terceira tentativa. Umas cem calorias a menos. Nada.

Mãe, irmã e sobrinha no carro dando palpites. Até que minha mãe, que não dirige, resolveu ajudar, oferecendo-se para descer e orientar a manobra.

- Tá longe ainda, mãe?

- Tá chegando perto... mais um pouquinho... para!

Ia pra frente:

- Para, para, tá encostando...

Pra trás:

- Paaaara, vai bater!

Não era possível. Por mais que eu não tenha noção de espaço, eu sabia que dava para o carro entrar. Desci, sob os olhares sorridentes do pessoal do ponto.

- Mãe, tem meio metro pra eu encostar no carro de trás!!!

- Eu só estou te avisando com antecedência para que você não bata...

Mãe prevenida ao quadrado. Combinei com ela que era para me avisar só se encostasse. Depois de mais umas duzentas calorias perdidas e a tonificação dos músculos dos braços graças à ausência de direção hidráulica, consegui. As pessoas no ponto quase me aplaudiram.

Descemos; coloquei trava, alarme, carranca... E vi uma senhora se aproximar de nós. Ela calmamente pegou uma chave da bolsa, abriu o carro que estava na frente do meu, sentou-se, ligou o motor e foi embora. Não tive coragem de olhar para o pessoal do ponto de ônibus...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Dia dos Namorados



Ele comprou as alianças. Escolheu um par de ouro branco. Sabia que era o que ela gostava. Amava-a como nunca, um amor que desabrochou nos últimos dias, de um jeito que ele jamais provara. Feliz da vida, embrulhou o presente com cuidado. E nessa hora teve a idéia. Iria assustá-la. Antes do grande pedido, um bom susto para que a surpresa ficasse ainda melhor. Terminaria tudo para depois revelar a brincadeira. Seria perfeito.

Esperou pela noite. Iriam se ver no local do primeiro encontro. Arrumou-se, guardou as alianças no bolso do casaco e saiu, sem conseguir disfarçar o sorriso.

Chegou ao bar, escolheu a mesma mesa da primeira vez. Minutos depois ela entrou, linda num vestido azul, talvez um pouco leve para o friozinho de junho. Beijou-a e esperou que se sentasse. Conversaram sobre acontecimentos recentes. Ele pediu um vinho, deixou-a tomar um pouco. Resolveu começar:

- Sabe, eu tenho um assunto meio desagradável para tratar...

- Sem rodeios, vá lá!

- Pois bem. Há dias venho querendo lhe dizer. Não consigo mais sentir a mesma coisa por você. Algo em mim mudou, não sou mais o mesmo, fico estranho ao seu lado.

- Sério?

- Sim. Passei a ver tudo com outros olhos. O nosso relacionamento. Não é aquilo que eu esperava, minhas expectativas eram outras. O que você acha?

- Eu me sinto aliviada. Não sabia como falar contigo, mas acho que você pode ser um bom amigo, não um namorado. Eu queria terminar, porém não sabia como fazê-lo sem te magoar...

Ele emudeceu. Podia ouvir o próprio coração.

- Ah... Bem... É... É isso... Melhor preservarmos uma bela amizade... A conta, garçom, por favor!

Despediu-se dela com um beijo no rosto. Não conseguia colocar a mão no bolso onde estavam as alianças, como se elas fossem escorpiões.

Andou a noite toda. Na manhã seguinte, odiando o mundo, vendeu os anéis a um “Compro Ouro” por um terço do que pagou. Gastou o dinheiro numa boate, com uma vodka barata e uma moça de nome Ábata, cujo passado ele preferiu não saber. Casou-se oito anos depois, mais por teimosia do que por amor.


sexta-feira, 19 de junho de 2009

Caminhando e cantando e seguindo a canção...



Caminhar é pular etapas passando por cada uma. É deixar para trás e encontrar logo mais à frente. É suspender o tempo por um tempo e, de repente, nossa, quanto tempo passou!

Caminhar é pular buracos, tropeçar em buracos. Virar o pé num piso bom. Pisar na poça sem querer ou tomar chuva de propósito. Fugir do sol mesmo sabendo que não há na Terra lugar para isso.

Caminhar é decidir fazer o percurso todo a pé e desistir no finzinho do caminho. É pensar que se exorcisa o mal como cansaço das pernas e as bolhas dos pés. É sair para tomar ar e sentir mais calor. É aceitar o suor e a experiência. É aceitar também um mundo esburacado e cheio de gente estranha. Mas não, eu não me aceito enquanto caminho. Eu me rejeito, rejeito pela louca ideia de sentir com os pés e pele o perigo das ruas. E o perigo da minha própria companhia, então? Caminhar é a vã tentativa de livrar-me de mim mesma. Como se fosse possível arrancar a própria sombra, dobrá-la e guardá-la no bolso.

20.01.2007

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Eu voltei, agora pra ficar...



Finalmente, voltei!

Limpando a poeira, tirando as teias de aranha: é hora de voltar à rotina de histórias insólitas deste blog!

Depois de atividades, mudanças, falta de horários, falta de internet, gripe forte, entre outras adversidades, acho que agora consigo reestabelecer a periodicidade das publicações.

Eu e a Janis andamos aparecendo por aí; eu com o blog, ela e eu numa entrevista bacaninha e um tiquinho exagerada, porque eu tenho um mínimo de noção e falei meio diferente do que publicaram. Mas ficou legal, como vocês podem conferir:

http://www.metodista.br/rronline/cultura/relacao-entre-homem-e-animal-traz-beneficios/

O áudio sobre o blog, que foi ao ar no programa Você é Curioso, da Rádio Bandeirantes, vou ajeitar pra colocar aqui depois.

De resto, pela primeira vez na história, dormi nos 10 primeiros minutos de um capítulo de Lost. Ou é o cansaço, ou é a idade.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Mundo Insano


A gente vê muitas coisas estranhas pelas ruas de São Paulo. Pessoas como o misterioso velho da cadeira de rodas ou o homem de branco, com quem eu pego ônibus todos os dias: ele sempre usa calça branca, camisa branca e sapatos com meias brancas. Até aí tudo bem, talvez seja um profissional da área de saúde. O divertido é observar sua obsessão pelo branco. Não satisfeito em usar traje completo branco, ele usa óculos escuros com armação branca, vários anéis de plástico brancos, brincos brancos (isso chega a ser um trava-língua), mochila branca, celular branco com fones de ouvido na mesma cor e, em dias de chuva, ele carrega um incrível guarda-chuva gigante. Branco. A única e impressionante exceção é o saquinho de lã onde ele guarda o celular: é preto com o símbolo do Santos.

E eu prossigo nesses encontros com pessoas curiosas. Estava à espera de alguém na saída de uma estação de metrô. Havia um morador de rua estrategicamente posicionado. Ele ficava no caminho entre a estação e o ponto de desembarque do ônibus de uma empresa próxima dali, que foi e voltou algumas vezes trazendo funcionários. A cada leva de funcionários que descia, o homem ganhava sanduíches e frutas daqueles que não consumiram seus lanches. Eu observava a cena, contente até por ver o homem ganhando tantas coisas. Ele guardou tudo e abriu um marmitex. De repente, ouvi:

- Moça! Moça!

Era comigo.

- A senhora está servida?

Recusei educadamente, mas não deixei de me impressionar. Era a primeira vez que um mendigo me oferecia comida, e isso me espantou deveras.

Em dois assaltos os ladrões também simpatizaram comigo; no primeiro, após entregar meus passes escolares recém-comprados, como o assaltante me considerou muito bacana por facilitar sua vida, disse-me que eu poderia ficar com dois para voltar para casa e que, se alguém mexesse comigo, iria acertar contas com ele. No segundo, encontraram na minha bolsa apenas um celular e R$ 5,00. Reclamaram da pouca quantia. Eu disse que era o dinheiro do ônibus para a faculdade e do lanche. Levaram só o celular.

Os pedidos de informação também podem surpreender. Gosto de poder ajudar indicando caminhos, mesmo que não tenham abordado a mim, mas a pessoa do meu lado. Às vezes até penso que sou intrometida, porém creio que ajudar nunca é demais. Ontem, num semáforo, percebi ao meu lado um pedido por informação. Fiquei atenta, para ver se era possível colaborar. Não era.

- Moço, por favor! Você sabe me dizer onde fica a Cracolândia?

- Ah, senhora, fica para os lados da Estação da Luz. - (Moço com cara de espanto total).

- E como eu faço para chegar?

Ela deveria perguntar como fazer para não passar por lá, como qualquer pessoa em sã consciência nesta cidade faria. Mas quem disse que aqui há pessoas em sã consciência? Como diz o bom e velho clichê, de louco, todo mundo tem um pouco.