segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Eleições 2008



Domingo, dia 5, aconteceram as eleições para prefeito e vereador. Não emitirei aqui minhas opiniões sobre política, etc., mas quero contar minha experiência trabalhando para a realização desse momento importante e um pouco desvalorizado do exercício da nossa cidadania (oh!).

Trabalhei como assistente do TRE numa faculdade onde vota a elite paulistana. Elite mesmo. Desfile de Pradas, Chanéis e Diors, creio eu que originais, um ou outro talvez da Pagé. Ar de desprezo pelo ato de votar. Lógico, não vamos generalizar, não era todo mundo e tal. Até porque havia muitas babás e empregados justificando a impossibilidade de votar, assim como também havia gente interessada em votar para levar ao poder esse ou aquele candidato que melhor lhe parecesse. Mas é muito, muito interessante observar um mundo diferente do nosso...

Bom, para começar, foi designado pela situação um segurança do local para tomar conta de cães. No início, até permitiram a entrada de um cão ou outro, mas a variedade de raças caras foi aumentando, o que levou a segurança do local a proibir a entrada dos animais, pois vai saber, de repente eles poderiam influenciar o voto de alguém e boca de urna é proibida. E se por um descuido dos donos o west highland terrier começasse a se interessar pela chow chow? Acudir no meio do voto para vereador não seria nada fácil.

Divertido, porém, foi informar o local de votação dos eleitores perdidos. E tinha gente perdida mesmo. Apresentava o RG e eu informava a sala. Ou não, porque muitas pessoas não constavam na lista. Quando isso acontece, normalmente é porque o eleitor não vota há muito tempo ou porque tem problemas com a justiça. O difícil é convencê-lo, na maioria dos casos, de que não vota faz tempo. A teimosia imperou:

- Eu tenho certeza de que votei na última eleição pra prefeito, votei até na sala tal. (Cinco minutos depois a pessoa se lembrava que não votava desde que elegeram o Collor).

- Você procurou direito? Vai ver escreveram meu nome errado (mesmo eu tendo procurado todas as opções de “erro”).

Ou ainda:

- Votei aqui embaixo, nunca deixei de votar! (“embaixo”, no térreo, nunca houve seção de votação).

Essa última foi a mais difícil. Indiquei-lhe o cartório para resolver o problema, o único lugar que poderia resolver, mas ela não queria saber:

- Não vou até lá (a cinco minutos de carro de onde estávamos). Não vou perder meu tempo por um erro deles! Deles! Quem é o seu superior?

Não temos “superiores”. Chamei uma pessoa mais experiente, que informou à senhora a mesma coisa.

- Não vou lá mesmo (meia hora depois). Quero que alguém aqui se responsabilize. Quero um comprovante de que estive aqui e não pude voltar. Sem isso não saio daqui.

O “superior” lhe disse:

- Vou fazer um papel sem timbre, só com meu nome, dizendo que você esteve aqui. Não valerá absolutamente nada...

- Mas eu quero mesmo assim.

E resolvida a situação da maneira mais ineficiente possível para ela, que acreditava estar em grande vantagem.

Ainda houve o momento celebridades. Um candidato a prefeito (mesmo depois do “Nunca mais votem em mim se fulano não for um bom prefeito” – e fulano foi o pior prefeito que a cidade já teve) foi votar acompanhado de uma legião de repórteres, que se enroscavam nos fios uns dos outros. A entrevista do candidato foi hilária, com direto a tapinhas nas cabeças de uns garotos:

- Adoro criancinhas!

Os repórteres não disfarçavam o riso.

- Quem o senhor vai apoiar no segundo turno?

- Vocês têm que perguntar quem vai me apoiar no segundo turno!

Mas o melhor foi no finzinho do dia...

Quinze para as cinco, momentos finais. Chegou um rapazinho estilo Gustavo Kuerten: cabelos iguais aos do tenista, aparência igual à do tenista, camiseta “Eu amo tênis”. Veio de muletas, com o pé machucado provavelmente em uma partida de tênis, e pediu gentilmente que eu verificasse sua sala de votação.

- Seu nome não consta... Você já votou aqui?

- Não, é a primeira vez que voto.

- E ao tirar o título, você não escolheu seu local de votação?

- Meu pai me disse que eu votava aqui... E agora ele foi votar em outra escola...

Ô, sossego! Sugeri:

- Telefone para esse número e informe seu CPF; lhe dirão onde você vota, apesar de estar quase se encerrando...

- Tem orelhão aqui?

- Sim, logo ali.

Lá foi ele. Ficou uns dez minutos no orelhão. Voltou com a maior tranqüilidade:

- Moça, por acaso não aceitam ligação a cobrar no cartório eleitoral?

Na próxima encarnação quero nascer sossegada assim.

11 comentários:

Karla Hack dos Santos disse...

hehehe
Já trabalhei dura nte as eleições..
O que sai de história.. é inacreditável!
Incrível como um momento que devera ser simples.. acaba complicando, neh?!
hehe
;P

Andrea Vaz disse...

Interessante seu post sobre o dia das eleiçoes, parece até hilário confirmar que é real e que deve ter acontecido similar em outras escolas eleitorais. Bom mesmo é poder escrever sobre o cotidiano e as pessoas...permitindo que os outros no silencio da leitura se identifiquem ou não com a situação.Aguardo sua visita: http://rascunhosdeandreavaz.blogspot.com/

Hélio disse...

Que beleza hein!
Só estando lá pra assistir a mais pérolas como essas!

Olha só huahau!
Aproveito a sua boa vontade (paciência) pra perguntar.

Estando fora do país (eu), tem como justificar? Ouvi dizer que pra prefeito nao tem problema. É verdade mesmo, Karina? Hahaha!
E tipo até quando eu tenho / posso que justificar?

Haeuheauae obrigado!!
E parabéns pelo txt! =)
Bjo!

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkk

Ainda bem que nunca fui chamada pra trabalhar como mesaria ou coisa parecida .. rs

Olha pelo que vc narro eu tb quero, pelo menos metadade da paciencia dele.. srsrs

gostei do post..

ah.. boa sorte .. domingo tem mais não é? rsrs

Anônimo disse...

uahuhuahuha

Muito Legal...

Blog bem massa..espero vir aki mais vezes!!

abraço

Thais_Moa disse...

Dei muito trabalho para o pessoal que era mesário. Primeiro por estar em santa catarina e ter que repetir 3 veses cada frase por que eles não entendiam meu sotaque baiano. E depois ainda errei na hora de jusitificar o voto.

Thais_Moa disse...

Dei muito trabalho para o pessoal que era mesário. Primeiro por estar em santa catarina e ter que repetir 3 veses cada frase por que eles não entendiam meu sotaque baiano. E depois ainda errei na hora de jusitificar o voto.

Anônimo disse...

aahh
nunca trabalhei nas eleições
azar o teu e sorte a minha, hehehe
amei o texto, como sempre! beijos!

Ellen Regina - facetasdemim disse...

Noooossa, Karina!!!

Gosto muito muito do seu jeitinho de escrever, vc sempre me diverte, srsrsrrs.

um beijo grande.
www.facetasdemim.blospot.com

Unknown disse...

kk
Tbem jah dei trabalho prus mesarios ..mais nunka estive na pele de um..hehe
mto bom seu blog!

http://nationanimes.blogspot.com

Fourier disse...

Oi Karina, tudo bem?

Poxa que legal que vc faz Letras. E o Jornalismo vai fazer quando?

Adorei seu relato das eleições. Muito engraçado. O Maluf é um figurão mesmo hein?

A história do tenista tranquilão também é muito boa!!

Vou aparecer sempre no Saia, virei fã de vocês!
Bjs