terça-feira, 3 de março de 2009

Questão de nome

Eu tenho um sobrenome difícil. Eu mesma, durante a alfabetização, tive um pouco de dificuldade para aprendê-lo. Na minha infância, recebi vários apelidos por conta dele: “Tchan, tchan, tchan, tchan”, musicado com a Quinta Sinfonia de Beethoven, como o comercial de lâminas de barbear (antiguinho, eu sei); Dona Armênia, Chambourcy, fora pronúncias com a língua enrolada que eu sabia, referiam-se a mim. Isso sempre me divertiu. No entanto, na vida adulta, tem sido diferente. Qualquer marcação de consulta, cadastro ou solicitação de serviço me obrigam ao inevitável:
- Seu nome?
- Karina.
-Karina de quê?
E lá vai a citação de metade do alfabeto. Acho admirável saber que meu avô atravessou o mundo fugindo de guerras e genocídios, morou e trabalhou em vários países buscando uma vida melhor. Um pessoal da Armênia, aquele pequenino país vizinho da Rússia cuja população é ¼ da de São Paulo (capital, não estado) espalhou-se pela América. Meu avô, sabendo que primos moravam na Argentina, resolveu ir para lá. Veio da Europa de navio, com escala no Rio de Janeiro. Mas era carnaval, e sabe como é que é: rapaz jovem, solteiro, à vontade no meio da folia... Tão à vontade que meu avô perdeu o navio. E ficou por aqui, sob o sol tropical. Reza a lenda familiar algo que deixa a história ainda melhor: o navio afundou a caminho da Argentina.
Graças ao carnaval, nasci brasileira (e no carnaval). Brasileira com sobrenome do leste europeu. Um pouquinho modificado porque dizem que, na hora do registro, o escrevente se atrapalhou. Não foi só ele. Esses dias passei por duas ótimas:
- Seu nome?
- Karina.
-Karina de quê?
- Vou soletrar: C-H-A-M...
- Moça, eu pedi seu sobrenome...
Realmente não sei o que a atendente imaginou que eu estivesse fazendo. Talvez pensou que eu estivesse entoando um mantra.
A outra foi melhor. Depois de ter soletrado umas cinco vezes e o atendente não ter conseguido localizar meu cadastro, tentei ajudar. Pedi:
- Vamos ver se meu sobrenome foi anotado corretamente: será que você poderia soletrar o que anotou?
- Claro! Lá vai: C de casa, H de homem, A de amor, M de Maria, K de caqui...
- Hein?
- K de caqui!
- Meu amigo, caqui é com c!
Quem sabe com o novo acordo ortográfico (não o de agora, talvez de 2050) caqui seja escrito com K. Até lá eu continuo com a minha ladainha de soletração – não posso reclamar muito porque, cá entre nós, eu também tropeço de vez em quando...

4 comentários:

disse...

O meu nem é tão complicado e as pessoas insistem em escreve-lo errado (Graña). Imagino o seu. Armenio...
rsrsrs
É um saco passar a vida com isso, não é?
Vamos trocar pelo "Silva"???
KKKK
Bj

Anônimo disse...

É. Que fazer? Eu compartilho do mesmo nome e tenho também muitas histórias, mas deixo isso para minha irmã que escreve muito bem, eu prefiro(e sou melhor nisso!!)contá-las ao vivo!!
Bjooo

Unknown disse...

Olha só;

Eu sei que pegar pronúncias estranhas estressa, que ficar soletrando todas as vezes enche o saco mas, ao mesmo tempo, ter um nome assim tão diferente dá uma sensação de "exclusividade" muito legal, você não se sente tão diluído na multidão (eu, 'a nível de' Silva, que o diga...).
Beijos!

Anônimo disse...

Minha cruz parece pequena perto da sua. Mas não é. Pelo menos todo mundo acerta o seu prenome. Eu me chamo Weber. Mas escuto todo tipo de ruído... de Elber, a Cléber, passando por Herbert, Werner e até Wagner. É foda. Quando tenho que falar meu nome completo em algum serviço por telefone, é um suplício. Erram tudo, os três nomes. Quisera eu me chamar João! João da Silva!