domingo, 26 de julho de 2009

Continho de verão



Passeando em Ilhabela com a família. Resolvemos tomar sorvete no centro da cidade. Eu dirigia. Verão, muita gente, difícil achar uma vaga para estacionar. Eis que surge uma, onde cabia um carro certinho. Pensei duas vezes. Eu sei fazer baliza sim, mas exatamente como aprendi na auto-escola: com aqueles cabos de vassoura de marcação, não entre carros. Afinal, a gente não aprende desse jeito ao tirar carta. Como já rodáramos muito, resolvi tentar.

Baliza não é baliza sem platéia. A vaga era em frente a um ponto de ônibus cheio de gente, claro. Primeira tentativa. Nada.

Segunda tentativa. Nada.

Terceira tentativa. Umas cem calorias a menos. Nada.

Mãe, irmã e sobrinha no carro dando palpites. Até que minha mãe, que não dirige, resolveu ajudar, oferecendo-se para descer e orientar a manobra.

- Tá longe ainda, mãe?

- Tá chegando perto... mais um pouquinho... para!

Ia pra frente:

- Para, para, tá encostando...

Pra trás:

- Paaaara, vai bater!

Não era possível. Por mais que eu não tenha noção de espaço, eu sabia que dava para o carro entrar. Desci, sob os olhares sorridentes do pessoal do ponto.

- Mãe, tem meio metro pra eu encostar no carro de trás!!!

- Eu só estou te avisando com antecedência para que você não bata...

Mãe prevenida ao quadrado. Combinei com ela que era para me avisar só se encostasse. Depois de mais umas duzentas calorias perdidas e a tonificação dos músculos dos braços graças à ausência de direção hidráulica, consegui. As pessoas no ponto quase me aplaudiram.

Descemos; coloquei trava, alarme, carranca... E vi uma senhora se aproximar de nós. Ela calmamente pegou uma chave da bolsa, abriu o carro que estava na frente do meu, sentou-se, ligou o motor e foi embora. Não tive coragem de olhar para o pessoal do ponto de ônibus...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Dia dos Namorados



Ele comprou as alianças. Escolheu um par de ouro branco. Sabia que era o que ela gostava. Amava-a como nunca, um amor que desabrochou nos últimos dias, de um jeito que ele jamais provara. Feliz da vida, embrulhou o presente com cuidado. E nessa hora teve a idéia. Iria assustá-la. Antes do grande pedido, um bom susto para que a surpresa ficasse ainda melhor. Terminaria tudo para depois revelar a brincadeira. Seria perfeito.

Esperou pela noite. Iriam se ver no local do primeiro encontro. Arrumou-se, guardou as alianças no bolso do casaco e saiu, sem conseguir disfarçar o sorriso.

Chegou ao bar, escolheu a mesma mesa da primeira vez. Minutos depois ela entrou, linda num vestido azul, talvez um pouco leve para o friozinho de junho. Beijou-a e esperou que se sentasse. Conversaram sobre acontecimentos recentes. Ele pediu um vinho, deixou-a tomar um pouco. Resolveu começar:

- Sabe, eu tenho um assunto meio desagradável para tratar...

- Sem rodeios, vá lá!

- Pois bem. Há dias venho querendo lhe dizer. Não consigo mais sentir a mesma coisa por você. Algo em mim mudou, não sou mais o mesmo, fico estranho ao seu lado.

- Sério?

- Sim. Passei a ver tudo com outros olhos. O nosso relacionamento. Não é aquilo que eu esperava, minhas expectativas eram outras. O que você acha?

- Eu me sinto aliviada. Não sabia como falar contigo, mas acho que você pode ser um bom amigo, não um namorado. Eu queria terminar, porém não sabia como fazê-lo sem te magoar...

Ele emudeceu. Podia ouvir o próprio coração.

- Ah... Bem... É... É isso... Melhor preservarmos uma bela amizade... A conta, garçom, por favor!

Despediu-se dela com um beijo no rosto. Não conseguia colocar a mão no bolso onde estavam as alianças, como se elas fossem escorpiões.

Andou a noite toda. Na manhã seguinte, odiando o mundo, vendeu os anéis a um “Compro Ouro” por um terço do que pagou. Gastou o dinheiro numa boate, com uma vodka barata e uma moça de nome Ábata, cujo passado ele preferiu não saber. Casou-se oito anos depois, mais por teimosia do que por amor.