Último sabado foi o casamento da minha amiga Emilia. Ela havia me pedido para ler uma poesia na cerimônia; pesquisei algumas e resolvi escrever algo também. Não foi uma poesia, mas acabou sendo o texto escolhido por ela para eu apresentar. O texto foi baseado em uma conversa que tivemos sobre casamento, vida a dois, etc. Tirando meu nervosismo de falar em público, foi bem legal, não engasguei e consegui ler até o final. Bem legal também foi o casamento dela; já tinha um tempo que eu não ia numa festa tão boa assim. Lá vai o texto:
"A gente passa um tempão procurando alguém. A gente nasce para fazer um monte de coisas e nos intervalos, o que fazemos? Procuramos alguém. Nessa busca experimentamos, tropeçamos, quase achamos, até que surge a certeza. E vou ser sincera: é uma certeza escorregadia, vez ou outra duvidamos em alguns minutos do dia, mas ela ganha força e se solidifica enquanto conhecemos o outro.
O outro. Dia a dia o estranhamento evanesce e esse outro vai devagar fazendo parte de nós. Invade pensamentos aos poucos e, quando nos damos conta, já não é mais tão outro e já invadiu nosso coração. E a essa pessoa queremos dedicar nosso sorriso, nosso olhar, nosso melhor. E queremos dedicar a mais preciosa atenção e um dos maiores tesouros que possuímos: nosso tempo, vertido em cada minuto juntos. Para isso, movemos céus e terras a fim de encurtar distâncias, de diminuir despedidas, a fim de se dizer “bom dia” tendo passado a noite em companhia um do outro. Mais do que o tempo, queremos dividir o espaço e às vezes contrariar as leis, ocupando o mesmo espaço que outro corpo.
Mas a vida não facilita. Nem um pouco. Conviver é difícil e requer uma lapidação diária da nossa alma. A entrega pede paciência e aceitação – e não aceitar também, por que não? Esse alguém a quem tanto buscamos precisa ajustar-se a nós, e nós a ele. O que faz a diferença, o que torna os ajustes possíveis é o que os permeia, o que suaviza cada espinho e muda nosso olhar diante de todos os obstáculos: o amor.
Não falo do amor piegas. Muito menos da paixão e suas ilusões. O amor não esfria ou se esconde com o tempo. O tempo pode ser a maior prova da existência do amor. É depois do tempo transcorrido que olharemos para trás e saberemos. É durante seu passar que sentiremos. É desejando estendê-lo pelo futuro, tendo junto quem escolhemos, que comprovaremos. O amor pode tornar nossa rotina tranqüila em meio ao caos e nos mostrar que mesmo aquilo que parece ser uma das mais difíceis provas do ser humano – a convivência com outro ser – pode também ser uma das mais gratificantes experiências da vida."