quarta-feira, 16 de julho de 2008

Tom Wilson

Essa tem dez anos...


"Ela era uma menina que todas as noites via a sombra de alguém em sua janela. Era um vulto perfeito de uma cabeça, cabelos curtos e ombros largos desenhados no vidro fosco com a ajuda da luz da rua e, às vezes, intensificados pelo luar. A princípio, tinha medo.

O medo, que não a deixou dormir muitas noites, começou a dividir espaço com a curiosidade. O que seria aquilo? Quem vinha toda a noite à sua janela e ficava ali parado, até que ela adormecesse e, com o nascer do sol, ia embora? Que interesse teria esse ser em permanecer no jardim frente ao seu quarto? Em seguida, começou a imaginar...

Era a sombra de um grande amigo, a quem chamou de Tom por achar esse nome lindo. Ele aparecia para ouvir suas histórias, os problemas com suas filhas-bonecas que a afligiam, ouvir sobre a escola e seus amigos, ouvir seus segredos. Ela não tinha coragem de ir até a janela e olhá-lo nos olhos, temendo que Tom se assustasse e saísse correndo. Para ela, ele não aparecia e não falava nada porque tinha vergonha.

A menina se divertia todas as noites conversando com Tom. E conforme o tempo passava, os assuntos se modificavam. As bonecas eram menos comentadas, os amigos mais; a vontade de fazer coisas novas, o que ela aprendia tornavam-se assuntos mais constantes.

Em alguns anos, deu sobrenome a Tom: Wilson. Tom Wilson, perfeito para ela. Ficava aborrecida quando faltava luz e não podia ver sua silhueta. Imaginava-o muito bonito.

E foi imaginando-o bonito que começou a imaginá-lo não mais como menino, mas como rapaz. Tom Wilson, o namorado perfeito. Jurava-lhe amor eterno e ansiava por seu beijo. Não falava de bonecas e coisas de criança, mas recitava pequenos versos românticos. E Tom Wilson ali, sempre a ouvindo. Com certeza estava apaixonado, pois nem nas noites de chuva ia embora. A menina-moça não queria mais vê-lo; agora, era ela quem tinha vergonha.

Ela cresceu. Foram poucas as noites que, como mulher, imaginou-o como amante. Conheceu outros rapazes que ocuparam sua mente, tomando o lugar de Tom. E um dia, saiu da velha casa onde fora criada.

Voltando num feriado à casa dos pais, dormiu em seu antigo quarto. Tom Wilson estava lá; ela se lembrou. Levantou-se devagar e, mais cuidadosamente, abriu a janela. Sentiu uma leve inquietação misturada a uma vaga saudade. Foi quando pôde enxergar: tantos anos depois, viu que Tom Wilson não passava de um vaso antigo, que enfeitava o parapeito da mureta entre a varanda e o jardim."


2 comentários:

Hélio disse...

Caramba, eu na primeira oportunidade ia descobrir o que
realmente poderia ser.

Muito boa a história!
Me fez viajar bastante.

Beijo =)
T+

Anônimo disse...

OI KA.

NOSSA, SIMPLISMENTE AMEI...
PERFEITO, MEUS PARABÉNS
BEIJOS
STELA