sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A velha camisa xadrez

Você se lembra daquela camisa xadrez? Aquela que você me deu num longíquo dia dos namorados? Pois é, eu a encontrei no fundo do meu guarda-roupa, depois das blusas dobradas, embaixo do jeans que preciso consertar, ao lado daquele tubinho azul que minha mãe fez para mim e que eu usava na época em que nos víamos. Aliás, são as duas únicas peças que guardo de um passado tão distante.

Vez ou outra eu ainda a uso, apesar de já se somarem uns anos depois da última vez. Ela é de um conforto aconchegante que não sei explicar. De flanela macia, mangas longas, vermelha, bege e com detalhes azuis. Você me deu porque eu sempre aparecia vestindo uma camisa xadrez do meu pai, e você achou que já estava na hora de eu ter a minha. Era uma peça comum naquele tempo, principalmente para quem ouvia rock. A tal moda grunge, cujo gosto não comentarei, que se restringiu àqueles poucos anos e aos acordes de algumas incríveis bandas de Seatlle, dos Estados Unidos.

Eu a vestia invariavelmente com uma regata preta por baixo, jeans e botas. Era quase um uniforme. E a usava para ir a todos os lugares, inclusive, é claro, para vê-lo. Estava começando a me posicionar no mundo e a entender que ser diferente podia ser uma coisa boa, da qual eu poderia até me orgulhar, e não somente motivo de piada na escola. Assim eu ia criando minha identidade.

E você parecia gostar de quem eu era. Aquela garota meio avoada e responsável, que levava as coisas muito a sério, mas sempre sorrindo. Uma garota de livros, rock, amor e lágrimas. Você vivia me elogiando quando eu vestia a camisa xadrez em nossos curtos encontros, que se espremiam entre a escola e o trabalho. Intensos encontros! E foi essa mesma camisa xadrez que me levou ao caos emocional durante quase dois anos.

Para mim, fim era fim e acabou. Nada de idas e vindas. Nada de recaídas. E nós terminamos. Eu não o procurei mais. Até o dia em que cheguei da escola e soube que você havia me ligado. É claro que retornei, numa esperança louca. Você me pediu a camisa emprestada. Eu a levei para você e não vi nada nas entrelinhas daqueles minutos juntos. Esperei você me procurar para devolvê-la. E o dia que você me devolveu foi minha glória e minha ruína. Uma recaída, mais sua do que minha. Os dias que se seguiram foram longos e difíceis.

Mas passou. E a camisa assistiu a tudo - se é que isso é possível. Passou o grunge, passaram os 90, passaram as pessoas em nossas vidas. Passou a vontade de vesti-la o tempo todo, como marca da minha pequenina revolução pessoal. Aqui nós estamos.

A última vez que a usei foi no show do Pearl Jam, uma das últimas bandas grunge sobreviventes; um pequeno portal do tempo. Foi estranho, porque naquele dia de dezembro muita gente circulou pela cidade com camisas xadrez. E depois, ela retornou ao esconderijo no guarda-roupa.

Ontem, dez graus à noite. Eu procurava algo quente e aconchegante para vestir. Lá estava ela, no fundo do meu guarda-roupa, depois das blusas dobradas, embaixo do jeans que preciso consertar, ao lado daquele tubinho azul que minha mãe fez para mim e que eu usava na época em que nos víamos. Vou guardar o tubinho. Vou guardar a camisa. Não sou mais de guardar tranqueiras do passado. No entanto, quero chegar aos oitenta e ter algo com cheiro de mofo e naftalina que me lembre os dezessete e o início da minha transformação. E quando eu morrer, as gerações futuras, ao desfazerem meu guarda-roupa, encontrarão a camisa xadrez e exclamarão:

- Minha nossa! Que gosto duvidoso para camisas!

19 comentários:

Alice Salles disse...

Ai o Show do Pearl Jam! Eu estava la tambem...
E alias, essas blusas xadrez ainda estao tambem no meu guarda-roupa...

Anônimo disse...

eu indiquei e indicaria o premio de novo para vc!
poxa, quanta lembrança presa em uma camiseta! seu blog é tudo de bom!
amo cronicas!!

Anônimo disse...

kkkkkkkk

Adorei a postegem..

Eu tb guardo certas coisas .. as vezes olho penso em jogar fora mas não conseigo .. rsrs
Não sei extamente oq vão falar quando acharem as minhas tranqueiras .. mas no minimo que eu sou doida .. kkkkkkk

abç..

Homenzinho de Barba Mal feita disse...

Existe roupas que nos faz relembrar pessoas e momentos em nossas vidas. Eu não tenho nenhuma roupa que me faça lembrar significamente de uma época.
Eu lembro qdo criança, eu adorava usar uma camiseta dos cavaleiros do zodíaco. Eu me sentia um herói, qdo a usava.


Até

http://hdebarbamalfeita.blogspot.com/

Henrique disse...

Foi mal aew!!!Meu orkut não atualizou aew eu comentei no blog errado!!!Mais fiko legal seu post

www.blogames10.blogspot.com

Brasília disse...

putz, acho que é o 1º post desse tamanha q tnho paciencia de ler...
achei massa...
e olha q nem faz muito meu tipo, mnas ta muito massa...
interessante como algumas coisas marcam certas etapas das nossas vidas ne...


mmmassaaaa dmais



bjo

Marcos Rossato disse...

É sempre temos um objeto no fundo do guarda roupa que faz nos lembrarmos de momentos que nem sempre temos certeza se realmente queremos lembrar =P
Mas sabemos que devemos guarda-los para num futuro que parece distante sabermos que um dia fomos jovens...

otima historia, suscesso ae, abraço...

DuDu Magalhães disse...

ah, seu minha calça xadrez falasse...

http://www.visaocontraria.blogspot.com/

Erich Pontoldio disse...

A energia que fica em um objeto nos faz lembrar dos momentos vividos ... pq não dizer a aura que fica no objeto?

Mas um dia temos que largar a pedra para continuar andando...!!

Anônimo disse...

puxa vida, nunca usei blusa xadrez e nem fui ao show do Pear Jam.... mas adoro a época grunge.... Stone Temple Pilots também é um dos meus favoritos........

Ricardo Thadeu (Gago) disse...

Certas coisas são úteis não por ainda nos servirem, mas por revigorarem nossas lembranças.

Bons esse anos noventa, boas eram também as camisas xadres... foi-se!

¡Hasta!

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog!

Gostei muito.

http://dita-dura.blogspot.com/

Ellen Regina disse...

hahahaha
essa da Festa Junina é ótima! Engraçada, e retrata bem o modo superficial como as pessoas nos julgam

Ellen Regina disse...

O nome dos personagens eu escolho de modo aleatório. Às vezes surge um do nada na minha cabeça (só tomo o cuidado de não utilizar nomes de conhecidos para evitar qualquer espécie de rótulo)...

Eu tenho muito de querer q tudo combine (hahahaha) então fico buscando. Às vezes pelo significado, às vezes pela simples força da pronúncia.

Jonatas Fróes disse...

Tudo nos remete a algum momento, que no fundo sempre é importante. Por isso não gosto de me desafazer de nada. É estranho como um simples objeto pode nos fazer reviver um instante inteiro com perfeição hehehe...

;*

Musikaholic

Thais_Moa disse...

Nossa que lindo. Amei mesmo esse conto, parece até que foi verdade.Foi? será? não precisa responder, me deixe na duvida.
rsrsrsrs
Continue a escrever
e ah, posso te add nos meus favoritos?

Unknown disse...

Me fez lembrar histórias antigas....momentos que nunca voltam mais. Gostei da postagem

Thais_Moa disse...

Thaimoa@hotmail.com

A história eh verdadeira?
rsrsr

Maria Cláudia disse...

A minha irmã me contou desta blusa aí, quando vocês foram ao show do Pearl Jam! haha
Karina, vc escreve MUITO bem, dá vontade de ficar horas e horas lendo seu blog, é muito agradável mesmo!

Beijão e boa sorte aí!