sexta-feira, 18 de abril de 2008

Bancos

Antes de disputar essa vaga que hoje ocupo, eu trabalhava em banco. Trabalhei no Santander (no tempo em que os clientes perguntavam se a pronúncia era Santandér ou Santânder) e depois no Bradesco. No primeiro eu era hostess, ou a mocinha chata que tenta convencer todo mundo a fazer depósito na máquina. No segundo, eu vendia seguros.

Eram curiosos os tipos que eu via. Mais ainda como hostess, pois eu tinha contato com todo mundo que passava pela agência. Por mais que eu me recusasse, sempre havia alguém me pedindo para digitar sua senha no caixa eletrônico. Desses, era uma senhora espanhola que não enxergava direito. Ficava brava se eu dissesse que não podia e repetia: "Se eu autorizo, ninguém tem nada com isso." Outro era um senhor que tinha fobia de botão. Ele me explicou o problema, que consistia em medo generalizado de apertar teclas e afins. Sei lá se ele explodiu algum lugar apertando o que não deveria.

Também era fácil fazer amizade por ali, virar confidente. Incrível o quanto as pessoas se abrem com estranhos. Um senhor solitário, dono de uma banca de jornais, às vezes ia à agência só para conversar comigo. Fez até um poema para mim. Parece clichê, mas consolei gente chorando, ouvi reclamações (milhares!), ajudei gente na porta giratória... Essa porta, inclusive, rendeu um ridículo strip -tease masculino por parte de um irritadinho. Tirou tudo, até a cueca. E como era dia de pagamento do INSS, eu tive que acudir as velhinhas horrorizadas.

No Bradesco, eu tinha um chefe muito legal. Tão legal que, muitas vezes, eu tinha que interrompê-lo em suas histórias para trabalharmos. Ele adorava contar sobre a minissérie que fez no SBT nos anos 80, e era muito engraçado. Sossegado, me deixou sozinha na agência no meu segundo dia, dizendo que tudo daria certo, era só atender o pessoal. Nesse dia, chegou uma cliente no momento em que eu me levantei para almoçar, perguntando mil coisas que eu não sabia, atrasando em uma hora meu almoço. Após dispensá-la, fui para a lanchonete ao lado da agência e, minutos depois, comecei a ver uma, duas, três, cinco viaturas de polícia chegando. Haviam assaltado o banco assim que eu saí.

O Bradesco também tinha uma figura singular. Uma senhora toda maquiada e sempre de preto estava lá todos os dias. Sentava-se no sofá e passava parte do dia ali. Não pagava contas no caixa, não falava com ninguém. Às vezes, dormia. Quando perguntei, me disseram que o marido dela trabalhou naquela agência. E morreu do coração. Depois disso, ela adotou esse ritual. Chegava a ser poético. Mas eu me questionava: o que ela faria se o marido fosse carcereiro?

4 comentários:

Hélio disse...

Haeoiheaioaehaoie que engraçado
esse strip na porta-giratória. xD

E esse negócio de se abrir com desconhecidos realmente é algo muito interessante.

Por várias vezes me peguei conversando com desconhecido da frente na fila do banco pra pagar conta.

Caramba que sorte heim.
Estavam esperando voce sair
pra assaltar hehe.

E o certo é Santandér neh?
Eu falo assim!

Haeoihaeioeaheaioheaio valeu!
Beijo!

Anônimo disse...

Incrível a quantidade de pessoas diferentes que dá pra encontrar nos bancos O.o Nunca tive a oportunidade de conhecer alguma, mas deve ser divertido xD
Quanto ao assalto, foi muita sorte sua sair logo antes de assaltarem. Mas seu chefe não falou nada? xD

Anônimo disse...

não sei como acabei vindo cair aqui no seu blog.
resultado?
gostei MUITO..
as histórias são simples e cotidianas e talvez por isso tão divertidas!
muito legal

bjs!

Divaldo Massom Júnior disse...

Oi,

Estou tentando escrever um blog também, mas tem sido complicado.
Daí tive a brilhante idéia do plágio.
Não que seja algo como ctrl+C e ctrl+V, é só uma pequena inspiração.
Vendo especificamente esse artigo me lembrei do período de transição entre Santander e Bradesco.
Senti nostalgia.
Abraços.