quinta-feira, 10 de abril de 2008

Palmito

Eu sou distraída. Não. Eu alterno momentos de atenção e uma boa percepção intuitiva com momentos em que desapareço do mundo e nem eu sei dizer por onde estive. Nesses momentos, muitas vezes, ninguém percebe que deixei o corpo. Não fico com aquela cara de "hã?" dos distraídos. Consigo conduzir uma conversa, perguntar, responder e mais: posso reproduzir tudo depois, como se eu tivesse deixado um gravador ligado, mesmo não estando lá. É claro que não sou superdotada; algumas coisas se perdem nessas minha viagens, uma informação ou outra que, se for realmente relevante, pode me colocar em situações inusitadas. Como o caso do palmito.

Primeiro ano de faculdade. Fiz uma amiga que se tornou inseparável, até porque eu não desgrudava dela. Eu a convenci a comermos um pastel na Rua Teodoro Sampaio, num lugar que ela me disse ser muito bom. Como saímos mais cedo da aula, ela topou.

Chegando na pastelaria, escolhi meu sabor preferido: palmito! Sou louca por palmito, fanática desde criança, só parando de comê-lo por uns meses quando fui a um passeio ecológico em Ubatuba e o monitor nos contou o drama das palmeiras. Só que isso não durou muito, claro, a ecoculpa cedeu ao desejo e tentei me redimir reciclando latinhas.

- Moço, eu quero um pastel de palmito com mozarela.

Porque não basta palmito, tem que ter queijo.

O atendente me informou:

- Não temos palmito, você pode escolher outro sabor.

E foi nesse momento que devo ter entrado em alfa-não-alfa:

- Então me vê um de palmito com catupiri.

Minha amiga me olhou e eu estava linda e maravilhosa, em meu momento de uso pleno da liberdade de escolha.

- Moça, nós não temos palmito.

Sinceramente, eu não sei até hoje o que meu cérebro registrou. Analisei a frase supostamente ouvida por alguns instantes. Depois de conjecturar, mandei minha pérola apoteótica:

- Então... eu quero um pastel só de palmito, por favor.

Foi ridículo. Minha amiga com aquela expressão de "é melhor fingir que não conheço". E o atendente, entre procurar a câmera escondida e tentar desenhar, ficou com a segunda:

- Moça, acabou nosso palmito. Você pode pedir qualquer coisa, mas nenhuma opção que contenha palmito. Você não quer um pastel só de queijo?

Essa foi a hora em que voltei à terra. Nem preciso dizer o meu constrangimento. Minha amiga ria, e por um bom tempo fui chamada só de "Palmito", sem contar as diversas piadas que rolaram sobre o fato.

Eu achei que depois disso ela pudesse se afastar de mim, afinal não pega bem ser vista por aí em companhia tão bizarra. Ao contrário, porém, ela é minha amiga até hoje. No fundo, eu acho que ela quis ver (e viu!) do que mais eu seria capaz.

3 comentários:

Unknown disse...

Até o fim deste comentário, decidirei se o assino ou não. É que EU sou a amiga do caso do palmito... E foi assim que aconteceu, exatamente assim, logo no primeiro ano em que nos conhecemos!!!
Mas acontece que também foi no primeiro ano em que nos conhecemos que você me deixou ler seus textos (que ninguém mais podia ler!!!!...) e que você já se mostrou toda assim, do jeito que você é hoje, simplesmente encantadora!
Vamos lá, deixa eu aproveitar a oportunidade e, mais uma vez, explodir sinceridade (você sabe muito bem que esse/a é meu/minha pior/melhor defeito/qualidade): também foi no primeiro ano em que nos conhecemos que eu "me encantei" por você: amiga, leal, divertida e, ainda por cima, escritora!!!
Parabéns pelo blog, pelos textos, por ser você!
Um beijo enorme,
OK, vou assinar,
Sua amiga e sua fã,
Kátia
P.S.: Não pense não que só porque me desmanchei toda vou abrir mão da dedicatória toda linda para mim em seu primeiro best seller... Nem pense...rsrsrs

Anônimo disse...

Que vergonha, moça! Eu também tenho meus momentos de "lag mental", mas não tenho seu dom de conduzir conversas ou gravar informações, além de ficar com uma cara de "duuh" e perguntar o que aconteceu xD~ Ótimo texto! Continue escrevendo assim =*

Anônimo disse...

Nossa!
Karina!
Num posso acreditar nisso: eu não estou sozinha no mundo!!!!!!!!
Obrigada, Pai!
Já tenho com quem desabafar!
Bjos, pri

PS: percebeu que eu tirei a manhã pra ler seu blog! né?!